Paraná leva comida regional e sustentável ao prato dos alunos da rede pública
Destinando 100% dos recursos do Governo Federal à aquisição de alimentos da agricultura familiar para compor a alimentação escolar, o Estado valoriza receitas locais, saudáveis e nutritivas
Reprodução do texto de autoria do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (FUNDEPAR)

Do arroz com feijão orgânico, às frutas, verduras e legumes, a alimentação escolar no Estado do Paraná leva segurança nutricional e alimentar diariamente para cerca de 1 milhão de estudantes da rede pública de ensino. O Estado oferta cardápios variados, que valorizam tradições regionais, ingredientes locais e in natura, tudo com base na agricultura familiar.
No Brasil, os estados e municípios recebem recursos financeiros do Governo Federal anualmente para comprar alimentos e realizar ações de educação alimentar e nutricional nas instituições de educação básica. O dinheiro é repassado por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que, a partir de 2026, passa a prever que quase metade das aquisições para alimentação escolar deverá ser realizada diretamente de agricultores familiares.
A Lei nº 15.226/2025, que amplia de 30% para 45% o percentual mínimo de recursos destinados à agricultura familiar foi sancionada na última quarta-feira (1) pelo presidente. De acordo com informações do Governo Federal, o PNAE garante cerca de 50 milhões de refeições saudáveis por dia para quase 40 milhões de estudantes da rede pública. Em 2024, o orçamento do programa foi de R$ 5,5 bilhões.
Primeiro Estado a cumprir a meta do PNAE, atualmente, o Paraná aplica 100% dos recursos federais na compra de agricultores familiares, priorizando produtores próximos das escolas, assentados, indígenas, quilombolas e mulheres. Em 2025, foram destinados pelo menos R$ 150 milhões dos recursos estaduais à agricultura familiar. A medida, além de garantir refeições mais saudáveis, movimenta a economia local, fortalece a produção orgânica e sustentável, e ainda ajuda o meio ambiente.
Todos os anos, por meio do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (Fundepar), o Paraná adquire mais de 11 mil toneladas de alimentos da agricultura familiar, o que corresponde a 22% do total comprado. São ovos, frutas, legumes, verduras, hortaliças, arroz, feijão, grãos, leite, iogurte e pães, produzidos por 20 mil famílias paranaenses. Desse grupo, aproximadamente 1.400 famílias fornecem alimentos orgânicos.
Em 2021, o Estado foi reconhecido pela iniciativa “Laboratórios de Inovação em Saúde (LIS)”, idealizada pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), em parceria com o Ministério da Saúde do Brasil, por ter uma das melhores práticas na aquisição de frutas, legumes e verduras diretamente da agricultura familiar por um órgão público.
“Os alimentos deixam de vir de outros estados e passamos a comprar aqueles que são produzidos localmente, muitas vezes pelos próprios pais dos alunos”, afirma a nutricionista Responsável Técnica pela execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar do Fundepar, Andréa Bruginski.
Para a professora do curso de Nutrição da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Marina Daros Massarollo, a maior oferta de alimentos in natura passa pela valorização da agricultura familiar e da cultura local. “Preservar a cultura alimentar local dentro das escolas é fundamental não apenas para valorizar as memórias e tradições do povo, mas para promover uma alimentação adequada e saudável, reduzindo o consumo de alimentos ultraprocessados”, pontua.
Segundo a docente, ao estimular o consumo de frutas, verduras e outros alimentos in natura, é possível ampliar a diversidade dos cardápios, respeitar a sazonalidade dos alimentos e ainda possibilitar que diferentes preparações cheguem até os estudantes.
Massarollo argumenta ainda que a alimentação saudável, alcançada através da agricultura familiar, influencia diretamente na aprendizagem dos estudantes. “Quando a criança ou o adolescente se alimenta de forma equilibrada na escola, há melhores condições de concentração, memória, atenção e disposição para participar das atividades. Ainda, a merenda escolar contribui para reduzir a fome e a insegurança alimentar e nutricional daqueles alunos em vulnerabilidade social e aumenta a permanência dos alunos na sala de aula.”
É o que indica a pesquisa “Efeitos da Inserção de Produtos da Agricultura Familiar na Alimentação Escolar sobre o Desempenho de Alunos da Rede Pública no Brasil”, publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2024. O estudo demonstra uma relação positiva entre a aquisição de alimentos da agricultura familiar e a melhora nas notas de português e matemática dos estudantes, a partir da análise das notas do exame nacional do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) em 2013 e 2019. Conforme os dados, as escolas que adquirem mais alimentos da agricultura familiar costumam apresentar notas mais altas nessas disciplinas.
No mesmo sentido, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) defende a necessidade de priorizar refeições escolares equilibradas e ações de educação alimentar. O relatório “Educação e Nutrição: aprender a comer bem”, divulgado em setembro deste ano, mostra que o acesso a refeições escolares nutritivas aumenta as matrículas e melhora os resultados de aprendizagem.
Cardápios no Paraná valorizam ingredientes e receitas locais
No Paraná, a alimentação servida nas escolas é planejada por uma equipe de quase 20 nutricionistas do Fundepar, responsáveis por realizar o planejamento, a aquisição, a distribuição e a elaboração dos cardápios.
Como o Estado trabalha com diferentes perfis de escola, a exemplo das indígenas, das agrícolas e as de tempo integral, a equipe personaliza os cardápios segundo as especificidades culturais e regionais, o tempo de permanência dos estudantes, além de possíveis restrições alimentares e infraestrutura das unidades. Desde 2022, graças ao programa estadual Mais Merenda, todas as escolas passaram a oferecer pelo menos três refeições por turno.
“A gente pode praticamente passar uma linha no meio do Estado: para cima só se consome feijão carioca e para o sul só feijão preto. Eu brinco que se inverter, dá guerra”, diz Andréa Bruginski, do Fundepar. “Essa é uma diferenciação importantíssima que conseguimos atender. O restante das especificidades a agricultura familiar dá conta, porque aquilo que é produzido na localidade, que é típico e é tradição, é aquilo que é consumido na escola.”
Apesar da padronização dos cardápios conforme os perfis escolares, as merendeiras paranaenses têm liberdade para adaptar as preparações, conforme a orientação das nutricionistas. É o caso da Escola Estadual Nossa Senhora Conceição, em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba, onde Diná Aparecida Gavelik é merendeira há 23 anos. Ela conta que, ocasionalmente, é preciso se adequar conforme as preferências e costumes locais. Os pratos mais famosos são o risoto e a farofa, mas o revirado de feijão com ovos, o café com leite e a torta de banana também fazem sucesso. “É muito satisfatório, porque faço o que eu gosto. Para mim, é um prazer preparar os alimentos para nossos alunos”, afirma Gavelik.