Legislação adequada, licença-maternidade remunerada e apoio à prática do aleitamento materno, beneficiam a maternidade e a amamentação. Entretanto, há vários fatores que precisam ser repensados para a manutenção do aleitamento materno, como a conscientização da sociedade e capacitação dos profissionais da saúde
O comportamento das mães brasileiras mudou em relação à amamentação, é o que mostram os resultados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) do Ministério da Saúde. Mais da metade (53%) das crianças brasileiras continua sendo amamentada no primeiro ano de vida. Entre as menores de seis meses o índice de amamentação exclusiva é de 45,7%. Já nas menores de quatro meses, de 60%.
Salas de apoio a amamentação
A nutricionista Carolina Belomo de Souza é doutoranda em Saúde da Criança e do Adolescente na UFPR e sua pesquisa “Salas de apoio à amamentação: estratégia Mulher Trabalhadora que Amamenta, do Ministério da Saúde” está relacionada diretamente a estes números. Segundo ela, a mudança no comportamento em relação ao aleitamento materno é resultado de ações, como a da pesquisa, mas outras como a garantia de emprego desde a gestação, com a licença-maternidade remunerada e o apoio à prática do aleitamento materno.
“Esta é uma das ações que beneficiam a amamentação, especificamente após o retorno ao trabalho. Mas, o aumento dessa prática é resultado de um conjunto de ações, como políticas públicas e o compromisso dos profissionais de saúde. O nutricionista trabalha em conjunto com outros profissionais e a conscientização da importância da amamentação é um trabalho de formiguinha. Cada um faz a sua parte, o nutricionista contribui”, explica.
Carolina comemora os números do Enani e o fato do Brasil ser reconhecido mundialmente por ter leis que protegem a amamentação. “Acompanhamos a criação das leis relacionadas à Saúde da Criança e Aleitamento Materno e desde as primeiras pesquisas se observam estas mudanças. Levou um tempo para chegarmos nestes números, que são resultado de um conjunto de ações, como a atenção básica, a atenção hospitalar e a legislação que protege a mãe, o bebê e a amamentação. Vários profissionais de saúde estão envolvidos para chegar no resultado perto do recomendado pela OMS, mas nosso trabalho ainda continua”.
Existe um conjunto de leis em prol da maternidade e da amamentação no Brasil e as últimas não são obrigatórias, são facultativas e muito importantes. Como a da mulher trabalhadora que amamenta, que é um trabalho de conscientização por meio da capacitação dos profissionais da saúde para que possam orientar a implantação dentro das empresas. Mas isso depende do desejo do empregador. Essa estratégia foi lançada em 2010 e até agora temos pouco mais de 200 salas lançadas no país. No Paraná são 16 e, na região sul, 21.
Tamy Assis Bochnie Correa é funcionária do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) e participou da pesquisa de Carolina. Tamy teve acesso à sala de apoio à amamentação desde que começou a trabalhar, após o retorno da licença-maternidade. Explica que a sala refletiu na decisão de continuar amamentando. “Pude amamentar até os 2 anos e 2 meses, quando meu filho parou de mamar, por ele mesmo. A sala fez com que eu ficasse mais tranquila, consegui me dedicar ao trabalho e ainda ter o tempo adequado para fazer a ordenha e o armazenamento correto. Até que a saúde do meu filho é muito boa, em grande parte pela amamentação, pois ele nunca teve alergias e foram raras as gripes e resfriados. Então, por isso valorizo muito todo apoio que recebi da empresa, antes mesmo de ter meu filho, pelo aprendizado e preparo que recebi”.
Amamentação Prolongada e seus benefícios e desafios
A nutricionista Carolina Bulgacov Dratch é mãe da Valentina, que tem atualmente 2 anos e 8 meses. Ela conta que Valentina mamou exclusivamente no peito até os 6 meses e, mesmo após esse período, segue sendo amamentada. “A amamentação prolongada é um processo natural entre mim e a minha filha. Sempre sonhei em ser mãe e, quando ocorreu, pensei que não conseguiria amamentar, mas a natureza nos ensinou, dia após dia, que a amamentação é um vínculo tão forte e especial que o momento da amamentar sempre foi uma troca de amor. A Valentina hoje tem a amamentação como complemento”.
Além dos desafios relacionados à falta de praticidade que a sociedade impõe, há o cansaço, a dor física, e opiniões que desestimulam a amamentação, principalmente a amamentação prolongada. “Em vários momentos, vencida pelo meu cansaço, pensei em desmamar, contratar pessoas especializadas para me ajudarem ou até mesmo colocar em prática os conselhos de amigos e parentes, com receitas ‘práticas e infalíveis’, como passar esmalte vermelho ou chá de boldo no seio, dormir fora de casa, colocar band-aid no seio e dizer que “tá dodói”, tomar remédio para secar o leite, entre outras. No entanto, observei que a natureza deu conta e por si só e, naturalmente, as mamadas da noite, que são as mais cansativas, foram diminuindo até que finalizaram. Ainda ouço de muitas pessoas aquelas frases chichê: ‘ela faz o seu seio de chupeta’, ‘cuidado, seu marido vai pedir o divórcio’, ‘ela está mal acostumada’, ‘isso não alimenta mais, é apenas um costume’”, desabafa.
“Me considero uma pessoa de sorte pela oportunidade de amamentar. Sou grata a Deus por essa dádiva. Como nutricionista, digo que a amamentação prolongada traz benefícios além dos que podemos imaginar, tanto para a mãe, quanto para a criança. O fortalecimento do sistema imunológico, menores riscos de infecções respiratórias, menores riscos de alergias, e a promoção do vínculo afetivo entre mãe e filho, são alguns dos benefícios. O mais importante é respeitar a vontade de cada mãe, de cada família e seguir o instinto materno”, finaliza Carolina.
Na hora de amamentar,
As tradicionais canções de ninar,
A poesia do amamentar vicia
Porque poesia também pode viciar.
Luís Alberto Mussa Tavares
Uma Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro – Edição Comentada