Valorizar a cultura indígena é proteger a segurança e soberania alimentar desses povos

Valorizar a cultura indígena é proteger a segurança e soberania alimentar desses povos

No Dia dos Povos Indígenas, o CRN-8 convidou a estudante Gislaine Kanhgág, indígena Kaingang, para compartilhar seu relato sobre a alimentação em sua comunidade de origem


Celebrado em 19 de abril, o Dia dos Povos Indígenas é um convite à reflexão sobre os direitos, as culturas e os desafios enfrentados por mais de 300 etnias que vivem no Brasil e se comunicam em aproximadamente 274 idiomas distintos. Os indígenas representam menos de 1% da população brasileira e enfrentam sérias consequências das transformações em seus modos de vida, como o avanço de doenças crônicas e da insegurança alimentar. Esses dados foram revelados no Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, coordenado pelo pesquisador Carlos Coimbra Jr., da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), que delineia um retrato detalhado das condições de vida dessas populações.

Para além de dados científicos, o CRN-8 optou por valorizar a perspectiva de quem vivencia essa realidade. Convidamos Gislaine Kanhgág, indígena Kaingang e estudante de Nutrição na UFPR, para relatar sua experiência. A seguir, publicamos seu depoimento na íntegra, com pequenas adaptações de estilo. Ao relatar sua história, ela oferece um ponto de vista sobre sua comunidade, especificamente. A escuta atenta dessa narrativa é também um gesto de respeito, reconhecimento e compromisso com a causa indígena.

Gislaine Kanhgág é indígena Kaingang e estudante de Nutrição na UFPR

Pergunta: Você percebe que existe uma mudança alimentar onde o consumo de alimentos não tradicionais está aumentando?

Resposta: Desde minha infância, como indígena da etnia Kaingang e ao conviver com outros povos indígenas como os Guarani, Guarani Mbya, Charrua, Kaingang e Xokleng — povos situados majoritariamente no Sul do Brasil — percebo com clareza as transformações alimentares que atravessam nossas comunidades. Sabemos o que significa “alimento forte” e “alimento fraco”, conforme descrevo em minha pesquisa Ciência Ancestral, Tecnologia Indígena e Saúde: discutidas a partir da riqueza nutricional do prato típico Kaingang “Fuá com Ẽmĩ” determinada a partir da análise físico-química de sua composição. Esses conceitos estão profundamente enraizados em nosso conhecimento ancestral, transmitido oralmente ao longo de milhares de gerações.

Observação ao leitor: leia o trabalho de Gislaine nos Anais da V Conferência de Teoria Histórico Cultural e CTS – Ciência Tecnologia e Sociedade clicando aqui.

Minha pesquisa revelou que a diferenciação entre alimentos fortes e fracos não se trata apenas de sabor ou aparência, mas diz respeito às propriedades nutricionais e ao impacto direto no corpo e na mente — um saber construído pela observação cuidadosa de nossos ancestrais. Entretanto, desde o colonialismo, nossas práticas alimentares vêm sendo profundamente afetadas. A pressão para consumir alimentos processados e ultraprocessados cresceu, impulsionada pelo acesso limitado aos alimentos tradicionais, pela sazonalidade e pela imposição de modelos alimentares ocidentais. Muitos desses alimentos, alheios à nossa dieta original, foram incorporados ao cotidiano, impactando negativamente nossa saúde, nossa relação com o território e nossos modos de ser.

Apesar dessas mudanças, é alentador perceber que os conhecimentos ancestrais seguem vivos entre nós. A sabedoria sobre o que é um alimento forte, por exemplo, continua sendo repassada oralmente, não apenas entre os Kaingang, mas entre diversos povos originários que hoje somam mais de 300 nações. Esse conhecimento ancestral representa resistência, identidade e soberania.

Na Aldeia Araçaí, situada em Piraquara/PR, por exemplo, onde trabalho com ações de segurança alimentar e nutricional, o acesso a alimentos de qualidade é um desafio cotidiano, essa transição alimentar é visível. A distância da cidade dificulta o acesso a alimentos frescos e tradicionais. Embora programas de assistência alimentar busquem garantir o direito à alimentação segura e nutricionalmente adequada, na prática, a falta de infraestrutura, recursos para plantio sustentável e apoio à produção tradicional limita a efetividade dessas políticas. Além disso, a urbanização ao redor da aldeia, o deslocamento de indígenas para trabalhos precários nas cidades e a luta constante por demarcação de território interferem diretamente na produção e consumo de nossos alimentos autóctones.

Por exemplo, alimentos tradicionais como o milho, a mandioca, o fuá e o ẽmĩ — de alto valor nutricional e cultural — têm sido gradualmente substituídos por biscoitos recheados, farináceos, embutidos e bebidas artificiais. Essa mudança é atravessada por múltiplas pressões: a influência dos mercados e escolas que não valorizam os alimentos indígenas, o acesso limitado à terra e à infraestrutura para plantio, e a própria falta de recursos financeiros e físicos para preparar a terra. Como relataram moradores locais, esses fatores dificultam o cultivo e a continuidade da agricultura tradicional.

É perceptível uma mudança alimentar significativa entre os povos indígenas. Essa transformação está ligada a fatores complexos, como a dependência crescente de programas de assistência alimentar e os desafios estruturais na aplicação dessas políticas públicas. Embora o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) tenham como diretrizes o fornecimento de alimentos saudáveis e culturalmente adequados, muitas vezes não contemplam os alimentos indígenas por dificuldades logísticas, exigência de regularização sanitária, emissão de nota fiscal e falta de estrutura para o escoamento da produção.

Além disso, também percebo que a ausência de diálogo com as comunidades quanto às suas necessidades e preferências alimentares faz com que esses programas, em muitos casos, incluam alimentos ultraprocessados por serem mais fáceis de armazenar, transportar e preparar. Assim, mesmo com o respaldo legal que garante o direito à alimentação adequada — previsto na Constituição Federal e na Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) —, sua execução acaba reforçando uma lógica assistencialista e comprometendo a soberania alimentar indígena.

Outro ponto fundamental é a não demarcação dos territórios e o adensamento populacional em áreas já reduzidas por políticas colonizadoras. Isso impacta diretamente a possibilidade de plantar roças, coletar alimentos da mata e até mesmo pescar, afetando a disponibilidade dos alimentos naturais e autóctones. A luta pela segurança e soberania alimentar dos povos indígenas passa necessariamente pela valorização de seus saberes, pelo respeito às suas culturas e pela efetiva garantia de seus direitos territoriais.

Pergunta: O inquérito de nutrição dos povos indígenas escrito em 2009 mostra que indígenas apresentam altas proporções de anemia e sobrepeso. Você percebe que esse dado se mantém atual hoje em dia?

Resposta: Sim, eu percebo que esse dado do inquérito de 2009 ainda é muito atual. Inclusive, eu tenho uma vivência direta que mostra isso. Nos anos 2000, quando eu era criança, minha mãe, que é técnica de enfermagem, adotou um menino indígena como nosso irmão. Ele chegou na nossa casa com aproximadamente um ano de idade, pesando apenas 4,200 kg. Tinha os cabelos bem amarelados, a barriga grande, sinais claros de desnutrição e foi diagnosticado com anemia ferropriva. A gente morava no Gramado dos Loureiros, no Rio Grande do Sul, e essa realidade era bastante comum nas comunidades indígenas da região.

Mesmo hoje, passados mais de 20 anos, vejo que essas situações continuam se repetindo em muitos territórios indígenas. A anemia ainda é muito presente nas crianças, e o sobrepeso e a obesidade têm aumentado entre os adultos. Isso mostra que a transição alimentar e a insegurança nutricional continuam afetando a saúde dos nossos povos. A gente vê isso na prática, no dia a dia, nas comunidades. Por isso, acredito que os dados do inquérito de 2009 continuam sendo um retrato atual da situação nutricional indígena no Brasil.

Pergunta: O que te motivou a cursar Nutrição e como pretende contribuir com a pesquisa em povos indígenas?

Resposta: Para ser bem sincera, quando entrei no curso de Nutrição eu não tinha praticamente nenhum conhecimento sobre a área. Isso porque minha trajetória foi marcada por desafios no acesso à educação — cresci em território indígena, estudando em escolas da comunidade ou próximas, onde o ensino era bastante limitado. Mas essa realidade nunca me desmotivou.

Foi minha irmã que me influenciou a seguir esse caminho, e com o tempo, principalmente através das vivências práticas e do contato direto com as necessidades da minha comunidade, fui compreendendo a real importância de termos nutricionistas atuando nos territórios indígenas.

Hoje, vejo que a Nutrição Pública pode (e deve) ser um instrumento de transformação. Quero falar sobre soberania alimentar entre os meus, mostrar que o nosso conhecimento ancestral tem valor, tem força — e mais do que isso, ele está reconhecido em leis. Precisamos conhecer esses direitos e cobrar sua efetivação.

Quero contribuir com pesquisas que valorizem os saberes indígenas, que respeitem a cultura alimentar dos nossos povos e que caminhem junto com nossas lutas por saúde, território e dignidade.

Conheça mais do trabalho realizado no Projeto de Extensão Ações de SAN em Piraquara aqui.

Como oferecer chocolate às crianças na Páscoa sem exageros? Nutricionista do CRN-8 orienta sobre escolhas e o equilíbrio

Como oferecer chocolate às crianças na Páscoa sem exageros? Nutricionista do CRN-8 orienta sobre escolhas e o equilíbrio

O chocolate não é o vilão, mas o excesso do consumo e a escolha de produtos com baixo valor nutricional precisa ser repensado para garantir mais saúde nessa época


Todo ano é aquela surpresa ao chegar ao supermercado e encontrá-lo repleto de ovos de Páscoa. Surge, então, o comentário inevitável: “Já estão por aí tão cedo!”. Essa época do ano é, de fato, marcada por esse produto — o chocolate em formato de ovo, com sabores diversos e forte apelo entre crianças. Chamam ainda mais atenção aqueles que vêm com brindes (geralmente brinquedos) ou que são personalizados com personagens de filmes e desenhos animados. Quanto mais decorados, mais atrativos se tornam.

Mas afinal, o chocolate é realmente um vilão? A resposta é não. O problema está no excesso e na forma como esse alimento é inserido na rotina alimentar, especialmente das crianças. Para esclarecer esse tema, conversamos com a nutricionista e conselheira do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8), Fernanda Manera, que compartilhou orientações importantes sobre como equilibrar o consumo de chocolate nas festividades sem abrir mão do prazer e da saúde.

O chocolate não é o vilão, o excesso, sim

Em primeiro lugar, é essencial entender que o chocolate, por si só, não representa um risco à saúde. “O que causa os malefícios é o consumo excessivo durante a Páscoa e nos dias seguintes”, explica Fernanda. Dividir um chocolate em família, por exemplo, não é um problema. No entanto, a compra em excesso e a disponibilidade constante do produto ao longo do tempo podem contribuir para hábitos alimentares inadequados, especialmente quando não há o consumo equilibrado de frutas, verduras e a prática regular de atividade física.

No caso das crianças, o cuidado deve ser ainda maior. A nutricionista lembra que crianças menores de dois anos não devem consumir chocolate ou qualquer doce com adição de açúcar. Acima dos dois anos, embora o consumo não seja proibido, deve-se optar por produtos com melhor qualidade nutricional, como chocolates com maior teor de cacau e uma lista de ingredientes mais limpa. Ou seja, com menos aditivos químicos e mais ingredientes naturais.

Por exemplo, chocolates meio amargos ou 70% cacau costumam ter como primeiro ingrediente o próprio cacau. Já os chocolates ao leite geralmente apresentam o açúcar como primeiro item da lista, o que indica sua predominância na composição. “Mesmo não sendo proibido, não devemos incentivar o consumo excessivo de chocolate na infância, já que se trata de um alimento com grande quantidade de açúcar e gordura para uma criança pequena”, destaca a nutricionista.

Consumo exagerado pode gerar riscos no futuro

O consumo exagerado de alimentos ultraprocessados na infância está associado a um aumento no risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, doenças cardiovasculares e obesidade. Além disso, pode estimular a seletividade alimentar, dificultando o interesse por alimentos mais saudáveis.

Segundo dados do Ministério da Saúde de 2021, 13,2% das crianças entre 5 e 9 anos acompanhadas pelo SUS já apresentam obesidade, e 28% estão com excesso de peso, o que acende um alerta para os riscos de longo prazo. É importante lembrar que um único consumo pontual de chocolate não causará obesidade, mas os hábitos frequentes e repetitivos, sim. Por isso, a palavra-chave é equilíbrio. A criança pode consumir chocolate, desde que isso ocorra de forma esporádica e acompanhada de uma alimentação variada e equilibrada.

Outro ponto de atenção são os ovos que contêm brinquedos como “brindes”, prática que associa alimentos de baixo valor nutricional a recompensas lúdicas. “Atrelar brinquedos a alimentos ultraprocessados é perigoso, pois reforça o desejo pelo consumo frequente”, alerta Fernanda. “A criança passa a acreditar que sempre que comer chocolate ganhará algo em troca e, por isso, pede todos os dias.”

Uma alternativa mais saudável é oferecer o chocolate às crianças com melhor qualidade nutricional e, separadamente, um brinquedo adequado à idade da criança. “Mais importante que o presente é a presença do adulto, que deve estar disponível para brincar, conversar e criar memórias afetivas, fortalecendo o vínculo familiar”, completa.

Orientações importantes para oferecer chocolate às crianças

Alguns alertas para a família. A primeira é não comprar chocolate em excesso. “Chocolate temos o ano todo e provavelmente a criança terá contato muitas vezes ao longo do ano, por isso, não precisa exagerar”, explica Fernanda. A segunda indicação é buscar opções com uma lista de ingredientes melhor, priorizando aqueles com a menor quantidade possível de elementos químicos, muitas vezes não nutritivos. Os ovos de Páscoa industrializados, geralmente, possuem pouco cacau, muito açúcar e gordura, além desses aditivos químicos.

E a terceira dica é sustentar o comércio local de uma maneira mais sustentável. “Para quem gosta de chocolate e quer aproveitar a Páscoa, comprar de pequenos artesãos, que produzem ovos de maneira mais artesanais e de melhor qualidade, é uma boa dica, porque você incentiva o pequeno empreendedor e ainda consegue ter mais controle de que o alimento não foi feito de maneira industrial”, conta.

E por fim, a palavra chave é equilíbrio. “Uma criança com acesso a comida de verdade, alimentos de época e com uma hidratação adequada, além de pouca oferta de alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas, é uma criança que pode comer chocolate”, diz Fernanda.

E vale lembrar: essas recomendações servem não apenas para as crianças, mas para todas as faixas etárias.

Fiscalização em Fotos: Retratos da Diversidade

Fiscalização em Fotos: Retratos da Diversidade

Projeto do CRN-8 busca valorizar e ampliar visibilidade das ações das Nutricionistas Fiscais


Em 2024, o Setor de Fiscalização do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região visitou 46 municípios em todo estado do Paraná. Para cada ação são vários quilômetros percorridos para garantir a efetividade do exercício profissional adequado.

Durante essas idas e vindas, o Setor optou por eternizar essas memórias: tirar fotografias das cidades que visitaram. Esse foi início do projeto Fiscalização em Fotos: Retratos da Diversidade. Além de oferecer visibilidade às ações fiscais, também valoriza a riqueza de cultura e natureza que o nosso Paraná possui.

E não parou por aí. No projeto foi previsto que houvesse um concurso interno para votar nas melhores fotos. Com a contribuição da equipe, fizemos um formulário e enviamos nos grupos de WhatsApp do RepresentAÇÃO pedindo para que os nutricionistas votassem nas fotos que mais lhe agradaram.

Hoje, trazemos o resultado dessa votação! Mas, além das fotos vencedoras do primeiro, segundo e terceiro lugar, fizemos uma galeria para mostrar todas as fotos tiradas e valorizar a riqueza do nosso estado.

Confira!

1º lugar: Toledo (47,5% dos votos)

2º lugar: Pato Branco (32,8% dos votos)

3º lugar: Irati (24,6% dos votos)

Galeria das Fotografias da Fiscalização

CRN-8 inicia novo GT para revisão de manual orientativo para nutrição em escolas particulares

CRN-8 inicia novo GT para revisão de manual orientativo para nutrição em escolas particulares

O principal objetivo é atualizar o manual já existente para alinhá-lo às melhores práticas de atuação do profissional de nutrição em escolas da rede privada


Em março, o Conselho Regional de Nutrição iniciou o novo Grupo de Trabalho para a revisão do Manual Orientativo para Nutricionistas Atuantes no Ambiente Escolar da Rede Privada de Ensino. O objetivo é revisar e atualizar o material, garantindo que esteja alinhado com as diretrizes nutricionais mais recentes e com as melhores práticas para a atuação dos nutricionistas em escolas particulares.

>>>Acesse a Primeira Edição do E-book aqui

O grupo é formado pelas conselheiras Fernanda Manera e Sandy de Fátima Souza, da coordenadora técnica do CRN-8, Carolina Dratch, e das nutricionistas Joana Wience Gluck e Thatielly Garcia, convidadas devido ao conhecimento e atuação na área.

A nutricionista Thatielly reforça que o material é fundamental para a atuação do nutricionista em ambiente escolar privado. “O trabalho feito pelo CRN-8 vai contribuir para manter o profissional da área sempre atualizado sobre as legislações vigentes, oferecendo a sociedade nossa atuação com a melhor capacitação possível”, explica.

O cronograma de atividades é composto por reuniões periódicas entre os membros do GT. Durante os encontros, serão feitas discussões técnicas sobre os temas abordados no manual. Igualmente, o grupo oferece uma oportunidade de ajustar o conteúdo e garantir que a segunda edição tenha aplicabilidade e efetividades no cotidiano do profissional de nutrição.

Importância da atualização aos profissionais de escolas privadas

A atuação dos nutricionistas em escolas privadas exige constante atualização diante das mudanças legislativas e técnicas da profissão. Desde a publicação do manual pelo CRN-8, em 2023, novas normativas foram implementadas, com destaque para as atualizações sobre Responsabilidade Técnica (RT), essenciais para garantir qualidade e segurança nos serviços prestados.

“Sabemos da importância da alimentação escolar para os estudantes e do papel do nutricionista na rede privada de ensino”, diz Fernanda Manera. “A revisão deste manual vem para somar e auxiliar os profissionais que atuam na alimentação escolar, por meio de atualizações e capacitação técnica, orientando assim as atividades do nutricionista”, finaliza.

Sobre o Manual

Disponível em formato e-book, possui 10 capítulos divididos em 100 páginas. Os textos do material foram escritos pelas nutricionistas Cilene da Silva Gomes Ribeiro; Thatielly Schwarzbach de Souza Garcia; Juliana Guedes; Veridiane Sirota; Thais Bordenowski da Silva; e Carolina Bulgacov Dratch.

Cada capítulo é baseado nas atribuições obrigatórias do nutricionista conforme “Resolução CFN n° 600, de 25 de fevereiro de 2018, segmento – Alimentação e Nutrição no Ambiente Escolar: subsegmento – Alimentação e Nutrição no Ambiente Escolar – Rede Privada de Ensino”.

Sobre a exigência do nutricionista no sistema Receita-Saúde

Sobre a exigência do nutricionista no sistema Receita-Saúde

O Conselho Federal de Nutrição (CFN) informa à categoria e à sociedade sobre a exigência dos nutricionistas no aplicativo “Receita-Saúde” da Receita Federal do Brasil (RFB), tema que tem gerado questionamentos e possíveis transtornos no reembolso de consultas e serviços prestados.

Nutricionistas não estão obrigados a se cadastrar no sistema Receita-Saúde.

Desde o início de janeiro de 2025, os Conselhos Regionais de Nutrição (CRN) têm recebido relatos de que operadoras de planos de saúde estão exigindo indevidamente que nutricionistas se cadastrem no sistema para viabilizar o reembolso de consultas. No entanto, não há qualquer obrigatoriedade legal para que esses profissionais utilizem a ferramenta.

A Instrução Normativa RFB nº 2.240/2024, publicada em 12 de dezembro de 2024, regulamenta o funcionamento do “Receita-Saúde” e determina que apenas as seguintes categorias estão obrigadas a emitir recibos eletrônicos por meio do aplicativo:

  • Médicos
  • Odontólogos
  • Psicólogos
  • Fisioterapeutas
  • Terapeutas Ocupacionais
  • Fonoaudiólogos

Os nutricionistas não fazem parte desse grupo, pois seus serviços ainda não são dedutíveis no Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), conforme a Lei Federal nº 9.250/1995. Dessa forma, os registros profissionais da categoria não foram incorporados ao sistema.

Atuação do CFN e medidas adotadas

O CFN já notificou as operadoras de planos de saúde sobre a inexistência de previsão legal para essa exigência e reforça que os reembolsos devem ser garantidos sem a necessidade de cadastro no “Receita-Saúde”. Caso algum plano de saúde condicione o reembolso ao uso do sistema, o profissional pode contestar a exigência, informando que não há respaldo legal para tal. O CFN também orienta que essas situações sejam formalmente denunciadas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e ao Ministério Público Federal (MPF).

Além disso, o CFN atua junto ao Congresso Nacional pela aprovação do Projeto de Lei nº 10.367/2018, que propõe a inclusão dos serviços de nutricionistas na base de cálculo das deduções do imposto de renda. O projeto está em tramitação na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, aguardando parecer do relator.

O CFN reafirma seu compromisso com a defesa e valorização da profissão, garantindo melhores condições de trabalho para os nutricionistas e promovendo a segurança alimentar e nutricional da população brasileira.

Para mais informações, acesse a Instrução Normativa RFB nº 2.240/2024 aqui.

Curso de Técnico em Nutrição e Dietética é o primeiro a receber o Programa CRN-8 nas IES em 2025

Curso de Técnico em Nutrição e Dietética é o primeiro a receber o Programa CRN-8 nas IES em 2025

Ao todo foram três turmas do Colégio Estadual Julia Wanderley que tiraram dúvidas e conheceram mais sobre a atuação do conselho e do profissional


Na última segunda-feira (24), foi realizada a primeira palestra do Programa CRN-8 nas IES para alunos do Curso Técnico em Nutrição e Dietética do Colégio Estadual Júlia Wanderley, em Curitiba. Ao todo, três turmas participaram do evento, que teve como objetivo esclarecer a atuação do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8) e apresentar o amplo leque de possibilidades profissionais para os Técnicos em Nutrição e Dietética.

A palestra foi conduzida pela nutricionista e conselheira do CRN-8, Giovana Regina Ferreira. Durante sua fala, ela explicou dúvidas frequentes dos alunos em relação ao período pós-formatura, incluindo os trâmites para cadastro e inscrição no Conselho. Além disso, contou sobre o papel do Conselho, abordando suas atribuições na fiscalização profissional e sua atuação junto às esferas públicas. Com iniciativas como essa, o CRN-8 reforça sua presença, amplia a visibilidade de suas ações e fomenta uma prática profissional ética, crítica e qualificada.

“Esse momento de aproximação com os alunos é essencial, pois, muitas vezes, representa o primeiro contato deles com o Conselho”, ressalta Giovana. “Aproveitamos essa oportunidade para orientá-los sobre a obtenção do registro profissional, compartilhar detalhes sobre nossa atuação e esclarecer as principais dúvidas que possam ter”, complementa.

Ao final da palestra, os alunos receberam um exemplar impresso do Código de Ética Profissional dos Técnicos em Nutrição e Dietética, documento que detalha as atribuições da categoria conforme a deliberação do Conselho Federal de Nutrição (CFN). “Grande parte das dúvidas dos estudantes gira em torno das áreas em que podem atuar. Por isso, essas palestras, aliadas à entrega do Código de Ética, contribuem para que compreendam melhor seu papel no mercado de trabalho e os motivem a explorar as possibilidades da profissão”, destaca Giovana.

O Técnico em Nutrição e Dietética pode atuar em diversas frentes, como hospitais, clínicas, indústria alimentícia e consultórios de nutrição, sempre auxiliando o trabalho do nutricionista. Suas responsabilidades incluem o acompanhamento nutricional de pacientes, a preparação de refeições, a aplicação de técnicas de higienização e a assistência na elaboração de dietas e cardápios, desde que sob a supervisão de um nutricionista.

“É comum que os alunos do curso técnico acreditem que sua atuação se restringe a lactários ou unidades de alimentação e nutrição. No entanto, há múltiplas possibilidades na carreira, incluindo oportunidades em instituições de saúde, onde podem trabalhar em conjunto com nutricionistas. Além disso, também podem ministrar aulas ou palestras, desde que os temas abordados estejam dentro das atribuições do técnico e não sejam atividades privativas do nutricionista”, explica Giovana.

Atualmente, o CRN-8 possui 228 Técnicos em Nutrição e Dietética devidamente cadastrados no Paraná, demonstrando a crescente relevância desse profissional no cenário da saúde e alimentação.

Instituição da Lei nº 14.924/2024 e a valorização profissional

Desde 12 de julho de 2024, entrou em vigor a Lei nº 14.824/2024, que reconhece o direito de representação dos TNDs. Desta forma, todo o sistema CFN/CRN do Brasil mudou a sua nomenclatura para “Conselho Federal/Regional de Nutrição”, agregando os profissionais em nível de equidade no Conselho.  A alteração está inserida na legislação que regulamentou a profissão de técnico em nutrição e dietética (TND), sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Sobre o CRN-8 nas IES

O Programa CRN-8 nas IES realiza palestra orientativa nas Instituições de Ensino Técnico e Superior em nutrição. Essas palestras têm como foco apresentar as finalidades da entidade, bem como as principais legislações da profissão e os casos éticos mais frequentes. Em média, as palestras têm duração de uma hora.

Para que a instituição de ensino receba a palestra, basta entrar em contato com o Conselho pelo e-mail, que a equipe que trabalha com a formação profissional alinha as datas e horários. Não há custo para as instituições.

Presidente do CRN8 participa da oficina Alimenta Cidades em Curitiba

Presidente do CRN8 participa da oficina Alimenta Cidades em Curitiba

A presidente do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8), Deise Regina Baptista, participou da Oficina Alimenta Cidades, evento promovido pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), em Curitiba. O encontro reuniu especialistas, gestores e representantes de diversas instituições para discutir estratégias voltadas à segurança alimentar e nutricional nos centros urbanos.

Na ocasião, foi apresentado o estudo “Os caminhos da comida: o papel do planejamento urbano na transformação do sistema alimentar”, que destaca como o planejamento das cidades pode contribuir para tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis, acessíveis e equitativos. A pesquisa analisou dados de Curitiba, da região metropolitana e do litoral, apontando o potencial desses territórios para promover uma transição para modelos alimentares mais saudáveis e sustentáveis.

Prefeito Eduardo Pimentel abre a oficina Alimenta Cidades, promovida pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), e lança o estudo “Os Caminhos da Comida: o papel do planejamento urbano na transformação do sistema alimentar”. A presidente do CRN8 está na terceira fila, de preto, com óculos e crachá. Curitiba, 17/03/2025. Foto: Pedro Ribas/SECOM

Além disso, Curitiba foi agraciada com o Selo Betinho, concedido pela Ação da Cidadania no Combate à Fome, em reconhecimento aos municípios que promovem e incentivam iniciativas de segurança alimentar. Enquanto a média nacional da população em situação de segurança alimentar é de 70,3%, Curitiba e sua região metropolitana apresentam índices superiores, atingindo, respectivamente, 80,9% e 79,6% da população com acesso pleno e regular aos alimentos.

A discussão sobre sistemas alimentares nas cidades é essencial, considerando que aproximadamente 85% da população brasileira vive em áreas urbanas, onde também se consome cerca de 80% dos alimentos produzidos no país.

O desafio da segurança alimentar e nutricional nos centros urbanos envolve questões como produção, transporte, comercialização, acesso, consumo e descarte de alimentos. Nesse sentido, a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional nas Cidades – Alimenta Cidades surge como uma iniciativa fundamental para integrar ações que garantam alimentos saudáveis e sustentáveis para toda a população.

A participação da presidente do CRN-8 reforça o compromisso da instituição em contribuir para o debate e a formulação de políticas públicas que promovam a segurança alimentar, reconhecendo a importância da atuação da Nutrição na construção de sistemas alimentares mais justos e saudáveis.

Saiba como a segurança alimentar nutricional está aliada à eliminação da discriminação racial

Saiba como a segurança alimentar nutricional está aliada à eliminação da discriminação racial

Nutricionista do CRN-8 explica que mulheres e pessoas negras são as que apresentam maiores taxas de insegurança alimentar


Em 21 de março é celebrado o Dia Internacional de luta pela eliminação da Discriminação Racial. Esta é uma data que fomenta o debate sobre a desigualdade racial e as formas de eliminá-la na sociedade. Afinal, os dados são do Relatório da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar evidenciam que a população negra e mulheres são as mais suscetíveis à insegurança alimentar.

Neste dia, o CRN-8 convidou a conselheira Giovana Regina Ferreira (CRN-8 12977) para trazer uma reflexão sobre essa data e como podemos contribuir para a eliminação da discriminação racial. Um assunto que a nutrição tem muito a contribuir.

Pergunta: Por que é importante falar de igualdade racial no quesito de segurança alimentar?

Resposta: Em relação à igualdade racial no contexto da segurança alimentar e nutricional, é essencial abordarmos esse tema, pois partimos do princípio de que a segurança alimentar está diretamente ligada ao direito humano à alimentação adequada. Quando analisamos a população que tem esse direito negado, percebemos que a maioria é composta por mulheres, pessoas negras, indivíduos de baixa escolaridade e com menor renda.

Trata-se de um perfil populacional bem definido, que historicamente enfrenta desvantagens e permanece em posição de minoria nos diversos recortes de privação de direitos. No caso específico da alimentação, que é uma pauta relevante para o Conselho, essa desigualdade se manifesta de forma evidente.

Pensar em igualdade racial significa garantir as mesmas condições para pessoas brancas e negras, o que envolve acesso à educação de qualidade, melhores oportunidades de emprego e, consequentemente, maior renda. Isso contribui para reduzir a vulnerabilidade social da população negra. Portanto, promover a igualdade racial também é promover segurança alimentar e nutricional, pois altera um cenário de desigualdade e retira essa população da linha da insegurança alimentar.

Pergunta: Quais os principais desafios que os negros enfrentam no campo do mercado de trabalho e na academia?

Resposta: Entre os principais desafios enfrentados no campo de trabalho, é importante destacar o racismo institucional. Independentemente de serem instituições públicas ou privadas, historicamente é pouco frequente encontrar não apenas profissionais negros na área da nutrição, mas também em outras áreas, ocupando cargos de chefia. Consequentemente, os salários dessa população acabam sendo mais baixos quando comparados aos de pessoas brancas.

Além disso, na academia, um dado da Plataforma Sucupira mostra que apenas 6,4% dos alunos de pós-graduação se declaram negros. Isso reflete a realidade dos profissionais no mercado de trabalho. No final, essas pessoas não são vistas em posições de liderança, em altos cargos ou se especializando para além da graduação, o que gera uma falta de representatividade nesses espaços

Pergunta: De que forma podemos minimizar a desigualdade racial nesses espaços e na área da nutrição, especialmente?

Resposta: Para diminuirmos a desigualdade racial e estarmos presentes nesses espaços na nutrição e no mercado de trabalho, é fundamental entender que o racismo institucional existe. Negar sua existência gera desafios.

Para que ele deixe de existir, oportunidades devem ser dadas diretamente a essa população. As cotas, atualmente presentes no cenário público, facilitam a entrada de pessoas negras em espaços nos quais dificilmente estariam devido às desigualdades, não apenas raciais, mas também econômicas.

As pessoas negras que já ocupam esses espaços devem se mostrar à população como forma de representatividade, demonstrando até onde a população negra pode e deve chegar. É essencial dar visibilidade a essas pessoas, pois isso funciona como um incentivo para que outras pessoas negras possam se imaginar nesses espaços e entender que, no futuro, eles também poderão ser seus.

Sobre o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial

A data foi instituída pela Organização das Nações Unidades (ONU) em alusão ao massacre de Sharpeville, que ocorreu na África do Sul em 1960, contra pessoas que manifestavam contra o regime de apartheid.

Em 2023, foi sancionada pelo Governo Federal a Lei 14.519/23, que estabelece o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. Desta forma, dando mais volume às campanhas e ações de conscientização que acontecem nesse dia.

Alimentação saudável previne fatores de risco que podem causar doença renal crônica

Alimentação saudável previne fatores de risco que podem causar doença renal crônica

No Dia Mundial do Rim, nutricionista da Fundação Pró-Renal compartilha dicas sobre como a alimentação pode ajudar a prevenir e combater a doença renal crônica.


O Dia Mundial do Rim é comemorado na segunda quinta-feira do mês de março. A campanha promovida pela Sociedade Brasileira de Nefrologia busca reforçar a importância do diagnóstico e do acesso ao tratamento da doença renal crônica (DRC). Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 10% da população brasileira tem algum tipo de doença nos rins.

Entre os principais grupos de risco para doenças renais estão pessoas com diabetes, obesidade e hipertensão. Dessa forma, a saúde nutricional e uma boa alimentação são fatores essenciais no cuidado com os rins. Por isso, o Conselho Regional de Nutrição da Oitava Região convidou a nutricionista Mayara Olikszechen (CRN9-012), da Fundação Pró-Renal, para falar conosco sobre como a nutrição tem um papel importante no combate às doenças renais.

A Fundação Pró-Renal Brasil é uma organização beneficente que se dedica à pesquisa, educação e cuidado de pacientes renais. Oferece suporte completo ao tratamento conservador (pré-diálise) por meio de uma equipe multiprofissional, além de contar com uma estrutura que envolve desde centro cirúrgico de nefrologia até ambulatórios, onde a nutricionista Mayara atua.

Os principais cuidados com a alimentação

Conforme mencionamos, entre os principais fatores de risco para doenças renais estão diabetes, obesidade e hipertensão. Dessa forma, Mayara orienta que uma das formas de prevenir a doença renal crônica é prestar atenção ao preparo das refeições. “Uma orientação muito importante é reduzir o uso de sal durante o preparo das refeições, evitar alimentos industrializados (congelados, enlatados, defumados e outros), reduzir o consumo de açúcar em geral, evitar bebida alcoólica e controlar o peso”, explica.

Assim, priorizar alimentos in natura é sempre a melhor forma de prevenir problemas nos rins.

Além da alimentação, outros fatores de risco incluem doenças cardiovasculares, idade avançada e histórico familiar de doença renal. A Sociedade Brasileira de Nefrologia também destaca situações específicas, como cálculos renais frequentes, tabagismo, doença renal relacionada à gravidez e até defeitos congênitos. Nesses casos, o ideal é manter acompanhamento médico frequente para identificação e diagnóstico correto.

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Os sintomas da doença renal crônica

“A doença renal crônica é assintomática na maior parte dos pacientes em estágio inicial”, explica a nutricionista Mayara. Contudo, entre os principais sinais de alerta estão náuseas, perda de apetite e de peso, cansaço, fraqueza muscular, alterações na urina (espuma, cheiro forte e coloração mais escura) e inchaço nas pernas, pés e tornozelos. “No entanto, em alguns casos, os sinais e sintomas podem ser confundidos com outras doenças”, acrescenta.

Por isso, é essencial consultar um médico para realizar exames específicos que confirmem o diagnóstico da doença renal crônica. A Sociedade Brasileira de Nefrologia recomenda a dosagem de creatinina no sangue e o exame de urina como principais testes para detecção. Inclusive, o mote da campanha de 2025 será justamente “Seus rins estão ok? Faça exame de creatinina para saber”, incentivando o diagnóstico precoce.

Acompanhamento nutricional para portadores de doença renal crônica

A nutricionista Mayara destaca que a alimentação adequada é essencial em todas as fases da doença renal. “O acompanhamento nutricional ajuda a retardar a progressão da lesão nos rins e a controlar doenças associadas, como diabetes e hipertensão, desde o tratamento conservador (pré-diálise) até o pós-transplante”, explica.

Na diálise, esse cuidado também é fundamental para prevenir a desnutrição e a perda de massa muscular (sarcopenia). Além disso, o nutricionista monitora a ingestão de eletrólitos para evitar inchaço (edema) e problemas cardiovasculares.

O cuidado com a alimentação também está relacionado à ingestão adequada de água. A hidratação traz inúmeros benefícios aos rins, pois auxilia na formação da urina e na eliminação de toxinas do sangue. A água também regula a pressão sanguínea, mantém o equilíbrio hídrico e previne o acúmulo de resíduos que podem levar à formação de pedras nos rins ou infecções.

Por isso, perguntamos à Mayara qual a quantidade ideal de água que devemos ingerir diariamente. “No geral, recomenda-se para a população saudável uma média de 35 ml de líquidos por quilo de peso. Basta multiplicar seu peso por 35”, explica. Por exemplo, para uma pessoa de 70 kg, o cálculo resulta em 2.450 ml, ou seja, cerca de 2,4 litros de água. “Mas isso pode variar conforme a intensidade da atividade física, a presença de cardiopatias e outros fatores. Por isso, é importante também fazer o acompanhamento nutricional para identificar a quantidade adequada em cada caso”, finaliza.

Orientações para nutricionistas

Aos profissionais de nutrição, Mayara recomenda dois principais guidelines como referência para o atendimento de pacientes com doença renal crônica:

KDOQI Clinical Practice Guideline for Nutrition in CKD: 2020 Update

European Guidelines for the Nutritional Care of Adult Renal Patients

Para aqueles que desejam atuar na área de nefrologia, ela deixa um conselho: “Como em qualquer área, o primeiro passo é realmente gostar do que faz. Depois, dedicar-se à prática clínica, buscando especializações, cursos e congressos para capacitação e atualização profissional”.

“IMC isoladamente não é diagnóstico”: nutricionista do CRN-8 explica mitos e verdades sobre a obesidade

“IMC isoladamente não é diagnóstico”: nutricionista do CRN-8 explica mitos e verdades sobre a obesidade

Celebrado em 04 de março, a data reforça a importância de lutarmos contra estigmas relacionados a obesidade, que vai muito além de uma dieta com altos índices calóricos


O Dia Mundial da Obesidade é celebrado em 04 de março. Essa é uma data estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para refletir sobre quais ações são realizadas e o que precisa ser feito para contribuir no combate à condição. Contudo, ainda é evidente a proliferação considerável de desinformação acerca da obesidade, especialmente sobre como uma pessoa se torna obesa e o tratamento, muitas vezes resumido a dietas restritivas.

Desta forma, a data foi criada para contribuir na discussão do tema como forma de conscientização, especialmente sobre seus riscos e estigmas que podem ser prejudiciais. Para nos ajudar a entender mais sobre o assunto, convidamos Ana Paula Garcia Fernandes, nutricionista e Conselheira do Conselho Regional de Nutrição da Oitava Região (CRN-8), para nos explicar sobre alguns mitos e verdades em relação a obesidade. Confira!

Freepik/2025

Afinal, o que é a obesidade?

Antes de tudo, é fundamental compreender o que é a obesidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se do acúmulo excessivo de gordura corporal em níveis prejudiciais à saúde.

Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) estima que, em 2025, mais de 167 milhões de pessoas ficarão menos saudáveis devido a obesidade. No Brasil, cerca de 25% da população sofre com doenças associadas a obesidade.

Essa informação é importante, porque a obesidade é um fator de risco para o desenvolvimento de outras Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), que podem ser diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e alguns tipos de cânceres, conforme o Ministério da Saúde.

A nutricionista explica que a obesidade não acomete uma determinada população, mas pessoas de diferentes idades, gêneros e condições sociais. “Quando pensamos no aumento da taxa de obesidade, percebemos que ela quase triplicou se usarmos como base os anos 70”, detalha Ana Paula. “Além disso, esse número é quase cinco vezes maior em crianças e adolescentes, que também estão sendo cada vez mais diagnosticadas com essa condição”, explica.

O IMC e os estigmas da obesidade

Uma das formas de classificar e identificar a obesidade é por meio do Índice de Massa Corporal (IMC), que se baseia em uma equação matemática entre peso e altura para gerar um valor de referência.

Por exemplo, para uma pessoa com 1,70 metro de altura, um IMC considerado normal varia entre 20 e 24. Caso a mesma pessoa apresente um índice acima de 30, pode ser um indicador de obesidade. No entanto, o IMC não deve ser encarado como um diagnóstico, pois não reflete, isoladamente, o estado de saúde do indivíduo. Assim, embora seja um parâmetro relevante, ele deve ser analisado em conjunto com outros fatores igualmente importantes.

“A obesidade está além de uma dieta com altos índices calóricos”, explica Ana Paula. Essa é uma condição crônica e multifatorial, que afeta milhões de pessoas em diferentes regiões. Ela também pode ser causada por problemas genéticos, metabólicos, mas também psicológicos, socioculturais e ambientais.

A obesidade é uma condição que não é causada apenas por hábitos alimentares. Por isso, a nutricionista explica que uma das preocupações é a criação de estigmas em relação a essa condição. “As pessoas são julgadas e culpabilizadas pelo seu peso e a gente precisa refletir que, ao projetarmos essa imagem, ignoramos a complexidade do problema”, detalha Ana.

Mitos e verdades sobre a obesidade

O CRN-8 separou seis afirmações que podem gerar dúvidas e preocupações aos pacientes. Com ajuda da nutricionista, iremos destrinchar cada uma delas e lhe explicar mais profundamente sobre se isso é mito ou verdade.

“O jejum intermitente e outras dietas podem ser feitas por qualquer pessoa”MITO

Existem diversas estratégias que podem ser utilizadas para alcançar a perda de peso. Inclusive, o jejum intermitente já foi utilizado em algumas situações. Porém, é importante que todas as dietas e estratégias sejam definidas com acompanhamento profissional, já que cada indivíduo vai ter uma especificidade e os resultados não serão iguais para todos.

“Ao lembrarmos dessas dietas da moda, a maioria que são publicadas na internet, não têm embasamento científico. Precisamos sempre ter um acompanhamento profissional para fazer qualquer tipo de dieta, e que esse profissional seja habilitado como diz o Código de Ética Profissional”, explica Ana Paula.

“Pessoas com sobrepeso não são saudáveis”MITO

O peso corporal não é o único indicador de saúde. “Existem vários fatores que precisam ser analisados e isso é feito pela análise e interpretação de exames clínicos, hábitos alimentares e outros indicadores. Desta forma, entendemos se a pessoa realmente está com algum tipo de inadequação em relação à sua saúde ou não”, explica Ana.

“Outros fatores além da alimentação também podem causar a obesidade”VERDADE

A obesidade é multifatorial. Ou seja, condições genéticas, ambientais e inclusive psicológicas, também contribuem para o aumento desse risco. Por exemplo, problemas como depressão e ansiedade podem contribuir para a obesidade.

“Evitem comer glúten e lacticínios, pois engordam e fazem mal”PARCIALMENTE VERDADE

Alimentos com glúten ou lactose podem causar desconforto para pessoas com doença celíaca, intolerância ou sensibilidade. “Nestes casos, a exclusão de certos alimentos na dieta pode ser indicada pelo profissional”, conta a nutricionista.

No entanto, para as pessoas que não possuem essa intolerância ou sensibilidade, é um mito. “Inclusive, uma dieta saudável não significa restringir um grupo ou alimento específico sem necessidade”, diz Ana. “Não há evidências de que o glúten ou o leite, isoladamente engorda. Tudo vai depender do plano alimentar”, conclui.

“Mudar o estilo de vida é mais eficaz para emagrecimento do que remédios”VERDADE

Os medicamentos podem auxiliar no processo de emagrecimento, desde que sejam indicados conforme a necessidade do paciente por um profissional. Para isso, há uma série de critérios que determinam a prescrição do fármaco. Ainda assim, mesmo nos casos em que seu uso é necessário, o medicamento atua apenas como coadjuvante. Sem a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis, não é possível alcançar resultados duradouros.

Se a pessoa procura emagrecer, mas não tem indicação para uso de algum medicamento, uma alimentação equilibrada e exercícios físicos são eficazes e trarão muitos benefícios.

Combater a obesidade não promover um padrão de corpo e beleza, e sim, uma questão de saúde pública” – VERDADE

A obesidade não é apenas um debate sobre estética ou exclusivo de um consumo de calorias. Conforme explica a nutricionista Ana Paula, a obesidade é um problema de saúde pública e com origem multifatorial.

“Ao promover ações de conscientização sobre a obesidade, não podemos pensar que estamos promovendo um ideal de beleza, mas sim, promovendo a saúde por meio de informações baseadas em estudos científicos”, explica.

“Neste dia 04 de março, a ideia é promover ações concretas para combater a desinformação e publicizar a prevenção por meio de hábitos alimentares equilibrados e um tratamento adequado”, conta. “O primeiro passo é combater esse estigma, especialmente em relação a dietas sem embasamento científico, para que as pessoas entendam que não é a ingesta um doce após o almoço que aumentar as suas chances de ficar obeso. Aqui, a importância está no equilíbrio”, finaliza a nutricionista.

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