Como oferecer chocolate às crianças na Páscoa sem exageros? Nutricionista do CRN-8 orienta sobre escolhas e o equilíbrio

Como oferecer chocolate às crianças na Páscoa sem exageros? Nutricionista do CRN-8 orienta sobre escolhas e o equilíbrio

O chocolate não é o vilão, mas o excesso do consumo e a escolha de produtos com baixo valor nutricional precisa ser repensado para garantir mais saúde nessa época


Todo ano é aquela surpresa ao chegar ao supermercado e encontrá-lo repleto de ovos de Páscoa. Surge, então, o comentário inevitável: “Já estão por aí tão cedo!”. Essa época do ano é, de fato, marcada por esse produto — o chocolate em formato de ovo, com sabores diversos e forte apelo entre crianças. Chamam ainda mais atenção aqueles que vêm com brindes (geralmente brinquedos) ou que são personalizados com personagens de filmes e desenhos animados. Quanto mais decorados, mais atrativos se tornam.

Mas afinal, o chocolate é realmente um vilão? A resposta é não. O problema está no excesso e na forma como esse alimento é inserido na rotina alimentar, especialmente das crianças. Para esclarecer esse tema, conversamos com a nutricionista e conselheira do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8), Fernanda Manera, que compartilhou orientações importantes sobre como equilibrar o consumo de chocolate nas festividades sem abrir mão do prazer e da saúde.

O chocolate não é o vilão, o excesso, sim

Em primeiro lugar, é essencial entender que o chocolate, por si só, não representa um risco à saúde. “O que causa os malefícios é o consumo excessivo durante a Páscoa e nos dias seguintes”, explica Fernanda. Dividir um chocolate em família, por exemplo, não é um problema. No entanto, a compra em excesso e a disponibilidade constante do produto ao longo do tempo podem contribuir para hábitos alimentares inadequados, especialmente quando não há o consumo equilibrado de frutas, verduras e a prática regular de atividade física.

No caso das crianças, o cuidado deve ser ainda maior. A nutricionista lembra que crianças menores de dois anos não devem consumir chocolate ou qualquer doce com adição de açúcar. Acima dos dois anos, embora o consumo não seja proibido, deve-se optar por produtos com melhor qualidade nutricional, como chocolates com maior teor de cacau e uma lista de ingredientes mais limpa. Ou seja, com menos aditivos químicos e mais ingredientes naturais.

Por exemplo, chocolates meio amargos ou 70% cacau costumam ter como primeiro ingrediente o próprio cacau. Já os chocolates ao leite geralmente apresentam o açúcar como primeiro item da lista, o que indica sua predominância na composição. “Mesmo não sendo proibido, não devemos incentivar o consumo excessivo de chocolate na infância, já que se trata de um alimento com grande quantidade de açúcar e gordura para uma criança pequena”, destaca a nutricionista.

Consumo exagerado pode gerar riscos no futuro

O consumo exagerado de alimentos ultraprocessados na infância está associado a um aumento no risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, doenças cardiovasculares e obesidade. Além disso, pode estimular a seletividade alimentar, dificultando o interesse por alimentos mais saudáveis.

Segundo dados do Ministério da Saúde de 2021, 13,2% das crianças entre 5 e 9 anos acompanhadas pelo SUS já apresentam obesidade, e 28% estão com excesso de peso, o que acende um alerta para os riscos de longo prazo. É importante lembrar que um único consumo pontual de chocolate não causará obesidade, mas os hábitos frequentes e repetitivos, sim. Por isso, a palavra-chave é equilíbrio. A criança pode consumir chocolate, desde que isso ocorra de forma esporádica e acompanhada de uma alimentação variada e equilibrada.

Outro ponto de atenção são os ovos que contêm brinquedos como “brindes”, prática que associa alimentos de baixo valor nutricional a recompensas lúdicas. “Atrelar brinquedos a alimentos ultraprocessados é perigoso, pois reforça o desejo pelo consumo frequente”, alerta Fernanda. “A criança passa a acreditar que sempre que comer chocolate ganhará algo em troca e, por isso, pede todos os dias.”

Uma alternativa mais saudável é oferecer o chocolate às crianças com melhor qualidade nutricional e, separadamente, um brinquedo adequado à idade da criança. “Mais importante que o presente é a presença do adulto, que deve estar disponível para brincar, conversar e criar memórias afetivas, fortalecendo o vínculo familiar”, completa.

Orientações importantes para oferecer chocolate às crianças

Alguns alertas para a família. A primeira é não comprar chocolate em excesso. “Chocolate temos o ano todo e provavelmente a criança terá contato muitas vezes ao longo do ano, por isso, não precisa exagerar”, explica Fernanda. A segunda indicação é buscar opções com uma lista de ingredientes melhor, priorizando aqueles com a menor quantidade possível de elementos químicos, muitas vezes não nutritivos. Os ovos de Páscoa industrializados, geralmente, possuem pouco cacau, muito açúcar e gordura, além desses aditivos químicos.

E a terceira dica é sustentar o comércio local de uma maneira mais sustentável. “Para quem gosta de chocolate e quer aproveitar a Páscoa, comprar de pequenos artesãos, que produzem ovos de maneira mais artesanais e de melhor qualidade, é uma boa dica, porque você incentiva o pequeno empreendedor e ainda consegue ter mais controle de que o alimento não foi feito de maneira industrial”, conta.

E por fim, a palavra chave é equilíbrio. “Uma criança com acesso a comida de verdade, alimentos de época e com uma hidratação adequada, além de pouca oferta de alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas, é uma criança que pode comer chocolate”, diz Fernanda.

E vale lembrar: essas recomendações servem não apenas para as crianças, mas para todas as faixas etárias.

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