Paraná leva comida regional e sustentável ao prato dos alunos da rede pública

Paraná leva comida regional e sustentável ao prato dos alunos da rede pública

Destinando 100% dos recursos do Governo Federal à aquisição de alimentos da agricultura familiar para compor a alimentação escolar, o Estado valoriza receitas locais, saudáveis e nutritivas


Reprodução do texto de autoria do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (FUNDEPAR)

Reprodução Fundepar

Do arroz com feijão orgânico, às frutas, verduras e legumes, a alimentação escolar no Estado do Paraná leva segurança nutricional e alimentar diariamente para cerca de 1 milhão de estudantes da rede pública de ensino. O Estado oferta cardápios variados, que valorizam tradições regionais, ingredientes locais e in natura, tudo com base na agricultura familiar.

No Brasil, os estados e municípios recebem recursos financeiros do Governo Federal anualmente para comprar alimentos e realizar ações de educação alimentar e nutricional nas instituições de educação básica. O dinheiro é repassado por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que, a partir de 2026, passa a prever que quase metade das aquisições para alimentação escolar deverá ser realizada diretamente de agricultores familiares.

A Lei nº 15.226/2025, que amplia de 30% para 45% o percentual mínimo de recursos destinados à agricultura familiar foi sancionada na última quarta-feira (1) pelo presidente. De acordo com informações do Governo Federal, o PNAE garante cerca de 50 milhões de refeições saudáveis por dia para quase 40 milhões de estudantes da rede pública. Em 2024, o orçamento do programa foi de R$ 5,5 bilhões.

Primeiro Estado a cumprir a meta do PNAE, atualmente, o Paraná aplica 100% dos recursos federais na compra de agricultores familiares, priorizando produtores próximos das escolas, assentados, indígenas, quilombolas e mulheres. Em 2025, foram destinados pelo menos R$ 150 milhões dos recursos estaduais à agricultura familiar. A medida, além de garantir refeições mais saudáveis, movimenta a economia local, fortalece a produção orgânica e sustentável, e ainda ajuda o meio ambiente.

Todos os anos, por meio do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (Fundepar), o Paraná adquire mais de 11 mil toneladas de alimentos da agricultura familiar, o que corresponde a 22% do total comprado. São ovos, frutas, legumes, verduras, hortaliças, arroz, feijão, grãos, leite, iogurte e pães, produzidos por 20 mil famílias paranaenses. Desse grupo, aproximadamente 1.400 famílias fornecem alimentos orgânicos.

Em 2021, o Estado foi reconhecido pela iniciativa Laboratórios de Inovação em Saúde (LIS)”, idealizada pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), em parceria com o Ministério da Saúde do Brasil, por ter uma das melhores práticas na aquisição de frutas, legumes e verduras diretamente da agricultura familiar por um órgão público.

“Os alimentos deixam de vir de outros estados e passamos a comprar aqueles que são produzidos localmente, muitas vezes pelos próprios pais dos alunos”, afirma a nutricionista Responsável Técnica pela execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar do Fundepar, Andréa Bruginski.

Para a professora do curso de Nutrição da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Marina Daros Massarollo, a maior oferta de alimentos in natura passa pela valorização da agricultura familiar e da cultura local. “Preservar a cultura alimentar local dentro das escolas é fundamental não apenas para valorizar as memórias e tradições do povo, mas para promover uma alimentação adequada e saudável, reduzindo o consumo de alimentos ultraprocessados”, pontua.

Segundo a docente, ao estimular o consumo de frutas, verduras e outros alimentos in natura, é possível ampliar a diversidade dos cardápios, respeitar a sazonalidade dos alimentos e ainda possibilitar que diferentes preparações cheguem até os estudantes.

Massarollo argumenta ainda que a alimentação saudável, alcançada através da agricultura familiar, influencia diretamente na aprendizagem dos estudantes. “Quando a criança ou o adolescente se alimenta de forma equilibrada na escola, há melhores condições de concentração, memória, atenção e disposição para participar das atividades. Ainda, a merenda escolar contribui para reduzir a fome e a insegurança alimentar e nutricional daqueles alunos em vulnerabilidade social e aumenta a permanência dos alunos na sala de aula.”

É o que indica a pesquisa “Efeitos da Inserção de Produtos da Agricultura Familiar na Alimentação Escolar sobre o Desempenho de Alunos da Rede Pública no Brasil”, publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2024. O estudo demonstra uma relação positiva entre a aquisição de alimentos da agricultura familiar e a melhora nas notas de português e matemática dos estudantes, a partir da análise das notas do exame nacional do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) em 2013 e 2019. Conforme os dados, as escolas que adquirem mais alimentos da agricultura familiar costumam apresentar notas mais altas nessas disciplinas.

No mesmo sentido, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) defende a necessidade de priorizar refeições escolares equilibradas e ações de educação alimentar. O relatório “Educação e Nutrição: aprender a comer bem”, divulgado em setembro deste ano, mostra que o acesso a refeições escolares nutritivas aumenta as matrículas e melhora os resultados de aprendizagem.

Cardápios no Paraná valorizam ingredientes e receitas locais

No Paraná, a alimentação servida nas escolas é planejada por uma equipe de quase 20 nutricionistas do Fundepar, responsáveis por realizar o planejamento, a aquisição, a distribuição e a elaboração dos cardápios.

Como o Estado trabalha com diferentes perfis de escola, a exemplo das indígenas, das agrícolas e as de tempo integral, a equipe personaliza os cardápios segundo as especificidades culturais e regionais, o tempo de permanência dos estudantes, além de possíveis restrições alimentares e infraestrutura das unidades. Desde 2022, graças ao programa estadual Mais Merenda, todas as escolas passaram a oferecer pelo menos três refeições por turno.

“A gente pode praticamente passar uma linha no meio do Estado: para cima só se consome feijão carioca e para o sul só feijão preto. Eu brinco que se inverter, dá guerra”, diz Andréa Bruginski, do Fundepar. “Essa é uma diferenciação importantíssima que conseguimos atender. O restante das especificidades a agricultura familiar dá conta, porque aquilo que é produzido na localidade, que é típico e é tradição, é aquilo que é consumido na escola.”

Apesar da padronização dos cardápios conforme os perfis escolares, as merendeiras paranaenses têm liberdade para adaptar as preparações, conforme a orientação das nutricionistas. É o caso da Escola Estadual Nossa Senhora Conceição, em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba, onde Diná Aparecida Gavelik é merendeira há 23 anos. Ela conta que, ocasionalmente, é preciso se adequar conforme as preferências e costumes locais. Os pratos mais famosos são o risoto e a farofa, mas o revirado de feijão com ovos, o café com leite e a torta de banana também fazem sucesso. “É muito satisfatório, porque faço o que eu gosto. Para mim, é um prazer preparar os alimentos para nossos alunos”, afirma Gavelik.

CRN-8 realizará oficina intergeracional com profissionais 60+

CRN-8 realizará oficina intergeracional com profissionais 60+

Com apoio do programa CRN-8 Jovem, o evento faz parte da campanha Valorizando os Profissionais 60+


CURITIBA – O Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região promove no próximo dia 23 (quinta-feira) o evento “Oficina Interativa 60+: Atualização, Trocas e Valorização do Profissional” com foco nos nutricionistas e TNDs acima dos 60 anos. Com apoio do programa CRN-8 Jovem, a atividade se caracterizará por uma oficina intergeracional, onde os profissionais mais 60 receberão uma oficina imersiva sobre o uso das redes sociais e as mídias do CRN-8. A inscrição é gratuita e a participação é exclusiva para profissionais ativos no Conselho com 60 anos ou mais.

O evento faz parte do cronograma da campanha “Valorizando os Profissionais 60+”, iniciada pelo CRN-8 neste ano. A campanha tem por foco prestar uma homenagem aos profissionais da terceira idade, que enfrentaram contextos adversos e pavimentaram o caminho para novas gerações. Desta forma, a proposta é dar visibilidade a essas trajetórias e reconhecer as vivências que, de alguma forma, moldaram a profissão e a área da nutrição tal como a conhecemos.

Leia os textos publicados até agora

Inclusão digital e o uso da internet entre 60+

Um estudo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostra que 88% da população com 10 anos ou mais de idade acessaram a internet de forma frequente, em 2023. Entre as pessoas com mais de 60 anos, a pesquisa mostra que essa porcentagem foi de 66% nesse período. Apesar de ser a menor taxa entre as idades, essa faixa etária é a que mais cresce proporcionalmente, já que da última vez que a pesquisa foi feita (2019), essa taxa era de 44,8%.

A oficina proporcionada pelo CRN-8 vai de encontro com a inclusão digital para pessoas 60 mais. Uma vez que o avanço tecnológico é contínuo e cada vez mais presente em várias etapas das da vida, aqueles que não se adaptam ou tem dificuldade com os recursos digitais, podem se sentir excluso da sociedade.

Inclusão digital para pessoas dessa faixa etária contribui diretamente com a melhora da qualidade de vida, a inclusão social, manter a mente ativa, bem como promover uma forma de descontração. Claro, sempre orientando dos cuidados e ameaças que o ambiente virtual pode proporcionar, especialmente com populações mais vulneráveis.

Com a oficina sendo realizada pelo Programa CRN-8 Jovem, os participantes 60 mais poderão ter mais contato com as redes do Conselho. A ideia é levá-los a entender como utilizar o site, redes sociais e outros canais para oferecer acesso à informação, bem como contribuir com o acesso aos serviços oferecidos pelo CRN-8.

Serviço

Oficina Interativa 60+: Atualização, Trocas e Valorização Profissional

Data: 23 de outubro de 2025

Horário: a partir das 15h

Local: Hotel Lizon Curitiba – Avenida Sete de Setembro, 2246 (Centro, Curitiba)

Inscrições apenas para profissionais (nutricionistas e TNDs) com 60 anos ou mais no link: https://forms.gle/v5EhSSHGwJNVBRKYA

“Tu só te preocupa em jogar bola”: a história de Sila Mary na Nutrição Brasileira das quadras de vôlei na infância até à docência

“Tu só te preocupa em jogar bola”: a história de Sila Mary na Nutrição Brasileira das quadras de vôlei na infância até à docência

No quarto episódio da série “Valorizando os Profissionais 60+”, o CRN-8 conta a história de Sila Mary, professora e nutricionista que ajudou a moldar a profissão no Brasil, transformando desafios em oportunidades e inspirando gerações de profissionais.


Na vida, tudo o que precisamos é de um bom saque. Tal qual em um jogo de voleibol, que o saque marca início da partida, na nossa carreira, uma decisão às vezes não pensada inicialmente, pode marcar o começo de uma longa trajetória. Como no caso de Sila Mary Rodrigues Ferreira, nutricionista e a quarta entrevistada do nosso projeto “Valorizando os 60+”. Sila acompanhou a construção de um curso que estava no início, viu leis de segurança alimentar e nutricional serem desenvolvidas e leciona há mais de quatro décadas acompanhando a ciência da nutrição. Tudo isso começou, porque um dia, Sila decidiu jogar voleibol.

“Você só se preocupa em jogar, por isso não passou no vestibular”, foi o que o pai de Sila um dia disse. Para ela, que sempre foi jogadora do esporte envolvida em tantos campeonatos, até poderia fazer sentido. Ela amava jogar. Mas tiveram outros desafios também. “Eu nasci no interior do Rio Grande do Sul, em Alegrete, muito longe da capital e a preparação para cursinho praticamente inexistia”, explica. “Depois, eu decidi fazer um vestibular na Universidade Federal de Santa Maria, mas não deu certo de primeira”, recorda a profissional, explicando que, naquela época, vestibular era desconhecido para quem fosse do interior.

Na época, Sila tinha duas opções para vestibular: Bioquímica ou Educação Física – afinal, ela era jogadora, lembra? Mesmo assim, decidiu pelo primeiro curso na UFSM, que deu errado. Porém, tal qual quando você erra um ponto no jogo de voleibol, não significa o fim da partida. Sila recebeu da sua prima que cursava Arquitetura na Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS) um folder com os cursos oferecidos pela instituição. “Foi quando eu vi escrito ‘NUTRIÇÃO’ e uma grande similaridade com Bioquímica”, relembra. Em um sotaque gaúcho tradicional, o pai de Sila perguntou “…tu queres ir estudar lá?”. E ela disse que, sim. Ela acaba de ganhar um set da partida que era sua vida.

Sila não se arrepende. Ela tinha ciência de que seria um desafio enorme, pois era uma universidade particular e seria um investimento muito grande para pai, que trabalhava duro para sustentar as filhas. Esse início já sinalizava uma das marcas da trajetória de Sila Mary: transformar obstáculos em oportunidades.

Início na universidade

Em 1975, Sila entrou no curso de Nutrição na Unisinos e se formou em 5 anos. Entre as matérias que eram oferecidas, envolvia um ciclo básico de 10 disciplinas que o aluno tinha que cursar, incluindo a extinta cadeira de Estudos de Problemas Brasileiros, que era obrigatória na época da Ditadura Militar.

No primeiro ano, reprovou em uma disciplina. Dessa vez, o time adversário marcava ponto. Mas ela não desistiu. A reprovação foi na disciplina de Sociologia e o professor havia respondido, em uma conversa despretensiosa, de que ela “era muito autossuficiente”, por isso a reprovação. Se foi justa ou não, isso não impediu Sila de buscar outras oportunidades.

Vale lembrar que nas universidades particulares, ao reprovar em uma matéria, você precisa pagar novamente para refazê-la. Por isso, inscreveu-se num curso de férias de Histologia e tornou-se monitora da disciplina. Essa posição rendeu-lhe uma bolsa que ajudou a pagar parte da mensalidade e lhe proporcionou vivência acadêmica intensa. “Quando alguém lhe dá um limão, deve fazer dele uma limonada. Foi o que fiz”, conta.

O placar virou a favor de Sila. Ela teve experiência em monitoria com outras disciplinas igualmente, o que gerou maior envolvimento dela com essa área acadêmica. “Essas atividades me renderam muita experiência, pois eu ajudava em aulas práticas, auxiliava docentes na correção de trabalhos e isso fez uma extrema diferença quando eu me tornei professora na Universidade Federal do Paraná”.

Sila posando para o quadro da primeira turma do curso em 31 de março 1984. Foto: Arquivo Pessoal

Os primeiros passos no mercado e a chegada a Curitiba

Formada em 1979, Sila Mary iniciou sua carreira profissional em Santa Catarina, numa empresa de consultoria especializada em restaurantes institucionais e comerciais. Atuou em Florianópolis e Blumenau, onde chegou a elaborar projetos para cozinhas industriais, algumas ainda em funcionamento.

Entre as principais dificuldades percebidas pela profissional foram as dificuldades e o desconhecimento da área na época. “Existiam muitos profissionais oportunistas que achavam que conheciam a ciência da Nutrição. Precisávamos mostrar nosso papel a todo instante, não com bandeiras, mas com ações para mostrar a necessidade do profissional”, detalha.

Em 1981, migrou para Curitiba para integrar o recém-criado curso de Nutrição da UFPR, onde se tornaria professora titular. “Quando entrei como professora no Curso de Nutrição da UFPR, não havia docentes suficientes. Foram muitos desafios e momentos marcantes na minha caminhada, o que me rendeu um aprendizado imensurável”, relata.

Foto: Arquivo Pessoal

Sua trajetória na UFPR confunde-se com a história da Nutrição no Brasil. Sila participou dos debates sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais na década de 1980, que redefiniram as dimensões e habilidades do nutricionista. Assistiu ao nascimento da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), em 1999, e acompanhou o fortalecimento da Segurança Alimentar e Nutricional, que colocou o país em posição de referência internacional. “A partir desse marco, a Ciência da Nutrição no Brasil passou a ser referência mundial na Política de Segurança Alimentar e Nutricional”, explica.

Sila Mary, participou ativamente da Criação do Curso de graduação em Nutrição da UFPR, no início da década de 80 e foi protagonista da criação do Programa de Pós-Graduação em alimentação e Nutrição, também da UFPR.

Primeita turma do Programa de Pós Graduação em Alimentação e Nutrição (PPGan) da UFPR em 2011. Foto: Arquivo Pessoal
Foto da disciplina de Controle da Qualidade na Pós-Graduação. Foto: Arquivo Pessoal

Uma ciência em evolução: a Nutrição ontem e hoje

Ao longo das últimas quatro décadas, Sila Mary testemunhou profundas transformações na área. “O que mais evoluiu foi em relação à produção do conhecimento. A partir da década de 1990, os cursos de Nutrição começaram a ter um olhar para pesquisa e produção científica. Surgiram novos cursos de mestrado e doutorado, e essa visão, passada pelos docentes, contribuiu para estimular os discentes, resultando em profissionais mais preparados”, avalia.

Ela reconhece, no entanto, que a expansão acelerada de cursos pode comprometer a qualidade da formação. “O excesso de cursos também fez com que a formação fosse prejudicada em alguns casos, resultando em profissionais não preparados”, pondera.

Para Sila, a tecnologia representa outro divisor de águas na atuação do nutricionista. Consultas remotas, inimagináveis há algumas décadas, tornaram-se realidade. “Essa ferramenta deve ser usada com bom senso, pois a presença física do profissional é importante. A tecnologia deve ser usada com parcimônia”, afirma.

Mais do que professora, Sila Mary vê sua missão atual como a de abrir caminhos para os novos profissionais. “Amo o que faço. Trabalho com prazer. Sinto-me muito feliz acompanhando a trajetória de um egresso, quando entra e quando finaliza o curso. A evolução que teve. Principalmente para os estudantes de mestrado e doutorado, estou sempre dizendo que minha função, hoje, é abrir portas. Aqueles que desejarem se empoderar entram”, conta.

A docente se orgulha de sua posição como referência e considera o conhecimento um bem inesgotável. “Nosso conhecimento deve ser como um rio, nunca parar de correr. Precisamos estar sempre evoluindo”, aconselha aos nutricionistas mais jovens.

Foto na Revista Alimentação e Nutrição a respeitoa da criação da Associação de Nutrição do Paraná. Foto: Arquivo Pessoal.

A maturidade como força transformadora

Com mais de 60 anos, Sila Mary defende que a produção do conhecimento não tem idade. Para ela, a experiência adquirida ao longo da vida oferece aos profissionais mais maduros uma espécie de “licença poética”. “Nesse momento da vida, nossa função é deixar a porta aberta para os mais jovens entrarem. Aqueles que desejarem podem se aproveitar (no bom sentido) e se empoderar de um conhecimento já vivido, experimentado. Essa é nossa missão como docentes e nutricionistas maduros”, diz.

Ela também acredita que a Nutrição é uma ciência insubstituível pela inteligência artificial. “A IA oferece ferramentas e um potencial transformador na área da Nutrição. No entanto, é fundamental que o profissional utilize essa ferramenta de forma ética e responsável”, enfatiza.

GALERIA DO TEMPO

Inspirando o futuro da Nutrição brasileira

Com sua trajetória, Sila Mary personifica o propósito do projeto “Valorizando os Profissionais 60+”: reconhecer os pioneiros que enfrentaram contextos adversos e pavimentaram o caminho para as novas gerações. Sua história ilustra não apenas as mudanças na profissão, mas também a força de quem construiu, com dedicação, um campo hoje consolidado.

“Quando estamos maduros temos a licença poética ao nosso favor, porém sem perder a responsabilidade da produção do conhecimento”, sintetiza. Essa frase, que ecoa como um manifesto, traduz a essência de uma carreira dedicada à ciência e à formação de profissionais. A conclusão que podemos ter é que nessa partida que é a vida, a Sila saiu vitoriosa. E toda essa trajetória só foi possível, porque um dia ela decidiu jogar voleibol.

Por Pedro Henrique Oliveira Macedo – Jornalista

Como solicitar a Responsabilidade Técnica?

Como solicitar a Responsabilidade Técnica?

O CRN-8 lança a campanha“Descomplicando as RTs” para orientar sobre as principais dúvidas referentes a esse assunto


Tem dúvidas de como solicitar a Responsabilidade Técnica? O Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região lança a campanha “Descomplicando as RT”, uma forma de trazer mais informações e esclarecimentos sobre esse documento e as obrigações dos profissionais. Além disso, explicar as resoluções que baseiam essa solicitação.

O que é a RT?

A Responsabilidade Técnica (RT) é uma obrigação legal tomada por um profissional devidamente habilitado, que assume o compromisso de garantir a qualidade técnica e conformidade com a lei dos serviços prestados por uma empresa ou um projeto.

No caso da Nutrição, o Nutricionista RT de uma empresa de alimentação, por exemplo, deve se responsabilizar para garantir que essa empresa siga os critérios de conformidade na manipulação desses alimentos.

O nutricionista pode atuar como responsável técnico em qualquer lugar que tenha atribuições para o nutricionista, seja em hospitais, escolas e empresas.

É importante frisar que é esse profissional responsável que responderá pela ética e pelos atos realizados.

Por que eu preciso pedir a RT?

Solicitar o documento de responsável técnico é importante por diversos fatores. O mais importante é porque ele vai te certificar como o responsável pela aquela atuação ou serviço. Além disso, é comum que empresas solicitem que o profissional tenha esse documento para controle interno e definições de funções e responsabilidades.

No caso do Nutricionista, apenas o CRN da sua jurisdição é o órgão competente para emissão de documento para Responsabilidade Técnica.

O Técnico em Nutrição e Dietética não pode assumir Responsabilidade Técnica.

Como solicitar a Responsabilidade Técnica?

O pedido de Responsabilidade Técnica deverá ser feito pelo nutricionista no Portal 24 Horas (https://crn-pr.implanta.net.br/servicosonline/)

Depois de fazer o login (com seu CPF e senha pessoal), clique em:

REQUERIMENTOS → RESPONSABILIDADE TÉCNICA

Ao acessar essa página, você encontrará o link para o formulário, que deverá ser preenchido e salvo no formato PDF.

Após preencher, volte até a tela do requerimento e avance até a etapa 3.

Nessa parte, faça o upload dos documentos solicitados e clique em concluir.

O prazo para análise é de 30 dias e o andamento poderá ser consultado clicando em REQUERIMENTOS → ACOMPANHAR/HISTÓRICO.

Como eu faço para baixar uma cópia do comprovante de RT?

Chamamos de Anotação a cópia do comprovante de Responsabilidade Técnica (RT).
Quando uma RT é deferida, o solicitante recebe um e-mail confirmando sua aptidão para exercer a função, e essa informação fica registrada em nosso sistema — o que, para o Conselho, é suficiente.

No entanto, algumas empresas podem solicitar o “comprovante”, isto é, a própria Anotação. Nesses casos, o profissional deve enviar um e-mail solicitando o documento para poder recebê-lo formalmente.

ATENÇÃO: é importante consultar a situação da inscrição da Pessoa Jurídica (empresa) no Conselho para verificar se ela se enquadra nos requisitos para emissão de Anotação de RT.

E quais são esses requisitos? 🤔

Conforme a Resolução CFN 702/2021, o REGISTRO é obrigatório para Pessoa Jurídica com atividade fim ou objeto social nas áreas da alimentação e nutrição humana (exemplo, concessionária de alimentação). Já na modalidade CADASTRO enquadram-se as Pessoas Jurídicas de direito público ou privado que dispõem do serviço de alimentação e nutrição humana, mas não a exerce como atividade fim (por exemplo, escolas e hospitais).

A anotação de RT poderá ser feita para ambas as modalidades. Mas aqui, vem um ponto importante. Na modalidade cadastro (se a empresa onde você atua for uma escola, por exemplo), enviando o e-mail, após o deferimento da sua RT, o documento poderá ser emitido para você.

Contudo, se você atua em uma empresa da modalidade registro, como uma concessionária de alimentação, o CRN-8 poderá emitir a sua anotação somente a empresa estiver regularizada no nosso sistema. Por isso, pedimos para ser consultado antes de solicitar o documento. Para consultar, basta enviar um e-mail para o setor de Fiscalização.

Até quantas RTs eu posso ter?

O nutricionista só pode assumir até 5 (cinco) responsabilidades técnicas pelas atividades de alimentação e nutrição, independente da jurisdição. Ou seja, um Nutricionista com 4 responsabilidades técnicas no estado de São Paulo, só poderá assumir 1 responsabilidade técnica no Paraná. O total será sempre cinco, conforme definido pelo artigo 6º da Resolução CFN 795/24.

Se eu mudar de local, preciso informar e solicitar outra RT?

Exatamente! Se você assumia RT na Empresa A e passou para a Empresa B, você tem que comunicar o desligamento da empresa A e fazer um novo quereimento para a empresa B. O primeiro requerimento para comunicar o desligamento é o “Cancelamento de RT/QT”, o segundo é o documento de RT.

Você precisa preencher os dois para que a sua situação seja em conformidade com o Conselho. Caso você não cancele, o seu nome continuará ligado com a Empresa A e você continuará suscetível a responder por qualquer inconformidade que possa acontecer na Empresa A.

Esse processo de cancelamento ou mudança de empresa não é automático, então você precisa realizar esses requerimentos.

Todo esse processo é feito por meio do Portal 24 horas.

Como posso acompanhar o andamento do meu requerimento?

Para acompanhamento dos requerimentos ou reenvio de documentação, acessar a aba REQUERIMENTOS > selecionar o REQUERIMENTO desejado > clicar em ACOMPANHAR/HISTÓRICO

O prazo que o CRN-8 tem para análise são de 30 dias úteis.

Essas são algumas das perguntas mais frequentes sobre como solicitar a Responsabilidade Técnica. Em caso de persistir as suas dúvidas, entre em contato com o setor de Fiscalização.

Telefone: (41) 3224-0008 – ramal da Fiscalização;

E-mail: fiscalizacao@crn8.org.br

Em caso de outras dúvidas, confira nossa página de Perguntas Frequentes (FAQ)!

FCRAS realiza I Simpósio de Fiscalização dos Conselhos da Área da Saúde do Paraná

FCRAS realiza I Simpósio de Fiscalização dos Conselhos da Área da Saúde do Paraná


Equipe do CRN-8 marca presença no I Simpósio de Fiscalização

CURITIBA – O Fórum dos Conselhos Regionais da Área da Saúde do Paraná (FCRAS) realizou em 30 de setembro de 2025 o seu I Simpósio de Fiscalização, um marco importante para o fortalecimento das ações fiscalizatórias em defesa da sociedade.

Estiveram presentes presidentes de diversos conselhos regionais, como o Dr. Bruno Aldenucci, presidente do CREFITO-8; Dr. Vinícius Abilhoa, presidente do CBio-7; Dr. Carlos Henrique Nunes da Costa, presidente do CREFITO-15 e representante do COFFITO; Dr. Gustavo Chaves Brandão, presidente do CREF-9; e a Dra. Deise Regina Baptista, presidente do CRN-8.

Também participaram agentes fiscais, coordenadores e orientadores dos departamentos de fiscalização dos regionais que compõem o FCRAS, além de representantes online. Entre os conselhos representados estiveram: COFFITO, CREFITO-3, CREFITO-5, CREFITO-7, CREFITO-8, CREF-9/PR, CREFITO-15, Coren-PR, Crefono-3, CRM-PR, CRMV, CRN-8, CRP-08 e CRF-PR.

Na abertura, o coordenador do FCRAS e presidente do CREFITO-8 , Dr. Bruno Aldenucci, destacou a importância do simpósio para o aperfeiçoamento contínuo da fiscalização, reforçando que a função primordial dos conselhos profissionais é proteger a sociedade: “O FCRAS demonstra, com este simpósio, que a fiscalização é uma atividade típica de Estado, essencial para garantir serviços de qualidade prestados por profissionais habilitados. A união dos conselhos potencializa nossa força e traz mais efetividade para a defesa da população.”

A programação iniciou com a palestra do Dr. Carlos Eduardo Dias Pereira, Secretário do Tribunal de Contas da União (TCU), sobre o tema “Relacionamento TCU e Conselhos de Fiscalização Profissional”. Ele apresentou reflexões valiosas a partir de sua experiência no controle externo, abordando os tipos de controle na administração pública, a estrutura e as diretrizes do TCU e os indicadores utilizados na avaliação dos conselhos, como auditoria interna, supervisão dos conselhos federais e gestão de receitas. Dr. Carlos reforçou que a missão do TCU e dos conselhos é aprimorar a administração pública em benefício da sociedade, ressaltando a necessidade de maior interação no sistema para um funcionamento eficaz.

Na sequência, a Dra. Débora Titus Marchi, coordenadora da Comissão de Fiscalização e Orientação do Fórum dos Conselhos Federais da Área da Saúde (COF – FCFAS), ministrou a palestra “Mais que multar: fiscalizar é fazer a diferença – práticas que transformam a fiscalização”, destacando experiências que qualificam a atuação dos fiscais além da função punitiva.

A conselheira e tesoureira do CRN-8, Lilian Tanikawa, avaliou como muito importante e rico o encontro proporcionado pelo FCRAS. “Essas trocas entre os próprios conselhos são essenciais para planejarmos ações em conjunto e combater problemas em comum”, explica.

Já a Coordenadora de Fiscalização do CRN-8, Julisse Wagner, também reforçou a necessidade desse relacionamento entre os conselhos na proteção da sociedade. “É muito importante que os conselhos se mobilizem para ações de fiscalização em conjunto, pois isso previne a exposição da população a riscos e principalmente consegue ter uma ação mais efetiva na proteção de profissionais não habilitados”, diz.

Mais sobre a programação

O simpósio também contou com mesas-redondas que integraram diferentes perspectivas. No tema Crimes e fiscalização, palestraram a Dra. Aline Manzatto (Delegada da DECRISA), sobre a atuação da Polícia Judiciária nos crimes contra a saúde; a Dra. Fernanda Schaefer Rivabem (Assessora Jurídica do MPPR), sobre a atuação do Ministério Público na defesa do direito à saúde; e a Dra. Luciane Otaviano de Lima (Coordenadora da Vigilância Sanitária Estadual). Já no tema Defesa do consumidor e proteção à saúde, palestraram a Dra. Laís Letchacovski (Promotora de Justiça – PRODEC/MPPR), sobre a proteção da saúde sob a perspectiva do consumidor; e o Sr. Jaiderson Rivarola (Superintendente do Procon São José dos Pinhais e presidente do Fórum dos Procons Municipais do Paraná), sobre a fiscalização conjunta entre os órgãos e a defesa do consumidor.

O I Simpósio do FCRAS consolidou a integração entre conselhos, órgãos de controle e entidades de defesa da sociedade, reafirmando que a fiscalização profissional é uma atividade de Estado voltada à proteção da população e à garantia da qualidade dos serviços em saúde.

Autoria do texto: Assessores de Comunicação do FCRAS-PR

Levantamento inédito revela desafios de nutricionistas para garantir alimentação escolar saudável e adequada

Levantamento inédito revela desafios de nutricionistas para garantir alimentação escolar saudável e adequada

Condições adequadas para execução do PNAE não são asseguradas por quase metade das entidades executoras; E nutricionistas alertam para número insuficiente de profissionais


Um levantamento nacional inédito com 970 nutricionistas que atuam no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) revela uma ampla aprovação às diretrizes do programa, dentre as quais as que restringem a oferta de ultraprocessados, mas aponta grandes entraves para a sua efetivação.

Realizada pelo Observatório da Alimentação Escolar (ÓAÊ), a pesquisa faz parte da série “Conta pra Gente” e buscou ouvir, em 2025, a percepção das profissionais responsáveis por planejar cardápios, acompanhar a execução do programa e promover atividades de Educação Alimentar e Nutricional (EAN). Mais de 20% do total de profissionais que atuam no PNAE participaram da pesquisa.

Para quase metade delas (47%), as Entidades Executoras onde atuam — secretarias de educação estaduais, municipais, do Distrito Federal e instituições federais de ensino — não dispõem das condições mínimas para cumprir as exigências nutricionais do programa. E 83% consideram o número de nutricionistas insuficiente.

O estudo confirma que, embora o PNAE seja reconhecido como uma das políticas públicas de maior alcance social do país, há uma distância entre as diretrizes estabelecidas e as condições reais de execução.

“O Brasil tem um dos programas de alimentação escolar mais avançados do mundo, mas não basta termos boas leis e normativas, se as condições reais para cumpri-las não são permanentemente asseguradas, a partir do compromisso das três esferas de governo”, resume Mariana Santarelli, coordenadora do ÓAÊ.

Para as nutricionistas, o reajuste dos valores repassados por estudante (per capita), a ampliação de equipes técnicas e o investimento em infraestrutura escolar são medidas urgentes para garantir refeições saudáveis, culturalmente adequadas e livres de ultraprocessados.

O levantamento foi sistematizado na publicação “Levanta Dados Nutricionista: O que pensam sobre as diretrizes e condições de implementação do Programa Nacional de Alimentação Escolar”, que será lançada na próxima quarta-feira (24), às 16h, em webinar com transmissão ao vivo no YouTube do ÓAÊ.

Perfil das nutricionistas

O mapeamento aponta uma predominância das mulheres à frente da função, sendo elas 94,8% das participantes da pesquisa. A maioria possui idades entre 25 e 44 anos (79,5%). Quase 84% atua na rede municipal de ensino, em sua maioria em cidades de pequeno porte (63,9%). Mais da metade (56,7%) exerce a função de Responsável Técnica, encarregada da elaboração e supervisão dos cardápios, enquanto 41,4% integram os quadros técnicos de apoio.

Pouco mais da metade se identifica como branca (53,8%), enquanto 44,6% como pretas ou pardas. Apenas uma nutricionista participante da pesquisa se identificou como indígena. Não foram registradas participações auto-identificadas de quilombolas ou pertencentes a outras comunidades tradicionais.

Condições de execução do PNAE

Um dos resultados mais preocupantes aponta que quase metade (47%) das Entidades Executoras — secretarias de educação estaduais e municipais — não dispõem de condições adequadas para cumprir as exigências nutricionais do programa. Fatores como falta de infraestrutura, equipamentos de cozinha, orçamento limitado, baixa aceitação dos cardápios e número reduzido de cozinheiras comprometem diretamente a oferta de refeições saudáveis.

Entre os maiores obstáculos, destacam-se a dificuldade de atender estudantes com necessidades alimentares especiais (devido à ausência de diagnósticos no SUS e alimentos específicos), a resistência da comunidade escolar à redução de ultraprocessados e os impactos da inflação no preço dos alimentos.

Apesar da exigência legal, o número de nutricionistas ainda está muito aquém do necessário: em 2023 havia 4.255 profissionais vinculados ao PNAE em todo o país, quando seriam demandados milhares a mais para atender ao volume de estudantes. O dado é confirmado pelas próprias entrevistadas: 83% consideram o número de nutricionistas insuficiente.

Restrição de ultraprocessados

A publicação da Resolução FNDE nº 3/2025, que reduziu de 20% para 15% o limite de gastos com processados e ultraprocessados em 2025 (e para 10% a partir de 2026), foi bem recebida pela maioria das nutricionistas: 68,6% concordam totalmente com a medida. Porém, muitas alertam para dificuldades práticas, como orçamento insuficiente, e falta de infraestrutura e pessoal para preparar alimentos in natura, mas chama atenção também a resistência de estudantes e famílias.

Para a maioria das nutricionistas (54,5%), a resistência da comunidade escolar é um dos fatores que influencia negativamente a oferta de uma alimentação adequada e saudável. Para além das limitadas condições humanas e materiais, essa resistência é uma das principais razões que impedem a plena implementação da Resolução n°06/2020 – que estabeleceu metas de oferta de frutas, legumes e verduras, e restrições e proibições a ultraprocessados e açúcar – para a promoção de uma alimentação saudável e adequada no ambiente escolar.

Os dados trazem um alerta: a alimentação oferecida nas escolas da rede pública de ensino, cada vez mais saudável e diversificada, vai na contramão do que está acontecendo nas casas dos estudantes.

“Esta é uma realidade que precisa ser enfrentada com seriedade, e que exige um conjunto de políticas que passam necessariamente pela educação alimentar e nutricional (EAN) nas escolas, mas também pela regulamentação da publicidade voltada ao público infantil, a taxação de ultraprocessados e bebidas açucaradas, dentre outras medidas regulatórias”, defende o estudo em suas conclusões.

“Na teoria, concordamos plenamente. Mas na prática, é quase impossível cumprir sem reajuste do repasse do PNAE e sem apoio para conscientizar a comunidade escolar”, relatou uma das nutricionistas.

Educação Alimentar e Nutricional (EAN)

Embora 82% das profissionais afirmem que suas entidades realizam atividades de Educação Alimentar e Nutricional (EAN), 60,6% consideram a carga horária insuficiente para desenvolvê-las de forma efetiva. E apenas 32% participam do planejamento pedagógico das escolas, limitando a integração da EAN ao currículo.

Agricultura familiar e desenvolvimento local

A pesquisa mostra avanços na compra de alimentos da agricultura familiar: 91,8% das entidades compram diretamente de agricultores e 73,7% garantem o mínimo de 30% dos recursos para compras da agricultura familiar.

Terceirização divide opiniões

A terceirização da alimentação escolar também foi tema central. Mais da metade das entrevistadas (55,8%) não se posiciona contra nem a favor, avaliando que a qualidade do serviço é o fator determinante, enquanto 27,1% são complementarmente contra.

Ao expressarem suas visões, apontam riscos da terceirização como perda de qualidade e quantidade da alimentação, precarização do trabalho e interrupção das compras da agricultura familiar. Essas visões vão de encontro ao que apontam relatórios do TCU que demonstram que este modelo de gestão não soluciona as principais falhas do PNAE, sendo ainda encontradas outras irregularidades que começam desde a lisura do processo licitatório, passando por descumprimento dos cardápios, das contratações e compras da agricultura familiar.

Conflito de interesses e pressões externas

Um dado alarmante é que 47,5% das nutricionistas já presenciaram casos em que interesses políticos ou econômicos interferiram negativamente nas decisões sobre a alimentação escolar. Além disso, ainda que a maioria das escolas esteja livre de influências da indústria de ultraprocessados, foram relatadas situações de distribuição de amostras grátis, visitas a fábricas e patrocínios.

“Mais uma vez vemos a importância do controle social e exigibilidade do direito à alimentação escolar. Precisamos de sistemas de prestação de contas mais transparentes, que permitam o acesso a dados em tempo real, para que os conselhos de alimentação escolar, procuradoria, defensoria, e a sociedade civil em geral possam monitorar o programa. Além de canais de denúncia mais eficientes e CAEs fortalecidos, com as devidas condições para a sua atuação voluntária”, defende a coordenadora do ÓAÊ.

Lançamento dos resultados em webinar com transmissão ao vivo

A íntegra dos resultados do estudo serão apresentados no webinar “Como nutricionistas avaliam as condições de implementação do PNAE?”. Participam do lançamento: Albaneide Peixinho, presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran).; Erika Carvalho, presidenta do Conselho Federal de Nutrição (CFN); Fátima Fuhro, presidente da Federação Nacional dos Nutricionistas (FNN); Liduína Lavor, nutricionista responsável técnica do PNAE em Quixada (CE), Priscilla Aoki, nutricionista responsável técnica do PNAE em Maracaju (MS); e mediação de Mariana Santarelli, coordenadora do Observatório da Alimentação Escolar (ÓAÊ).

O evento terá transmissão ao vivo nesta quarta-feira (24), a partir das 16h, pelo YouTube do ÓAÊ.

Reprodução: Yuri Simeon, assessor de comunicação do Observatório da Alimentação Escolar (ÓAÊ) | (15) 98187-2633 | ascom@alimentacaoescolar.org.br

“Ser nutricionista é uma arte”: entre incertezas e desafios, Glória viu a profissão se estabelecer como referência na saúde

“Ser nutricionista é uma arte”: entre incertezas e desafios, Glória viu a profissão se estabelecer como referência na saúde

Como parte do projeto “Valorizando os Profissionais 60+”, contamos a história da profissional Glória Maria e os desafios enfrentados na nutrição clínica

CURITIBA — Nos primórdios, os primeiros seres humanos caçavam seu alimento mais por uma questão de instinto e adaptação ao ambiente. Com o passar dos anos, civilizações antigas como Egito, Grécia e Roma começaram a ver a alimentação de forma mais sistemática, especialmente com o cultivo e a domesticação dos animais. Não demorou muito para, a partir de então, começar uma grande revolução partindo da Idade Média e Renascença até a revolução científica e a era de descobertas com pesquisadores como Antoine Lavoisier com os estudos do metabolismo até Casimir Funk com a descoberta das vitaminas.

Toda essa evolução foi gradual e aos poucos o mundo passou a entender cada vez mais como a nutrição tem um papel importante na atuação clínica. Hoje, a área é robusta e com grande atuação em hospitais e clínicas. Foi nesse contexto em que Glória Maria Alves da Silva, ou Glorinha para os íntimos, se encantou pela nutrição. “Sempre amei a área clínica, alimentado pelo meu desejo de ajudar pessoas”, comenta.

No terceiro quadro do projeto Valorizando os Profissionais 60+, o CRN-8 traz a história da profissional que iniciou a sua atuação na nutrição em um momento de incertezas e dificuldades. Porém, aos poucos, galgou seu espaço e começou a trabalhar na clínica inspirada pelo seu amor à área.

Início na profissão

Glória se sentiu atraída pela Nutrição por ser um curso novo na área da saúde. Com muita expectativa a respeito da profissão, ela se matriculou no curso na Universidade Federal do Paraná (UFPR) que teve a sua primeira turma em 1980 e deu o primeiro passo a uma carreira que mudaria sua vida.

No entanto, os desafios persistiam. “A gente tinha muita dificuldade com os estudos, pois não existiam materiais específicos para a área da nutrição e era o início de muitos consensos que estavam em construção para basear e protocolar o exercício da profissão”, comenta. Uma das aulas que Gloria fez foi na disciplina de “Bioquímica de Alimentos” que falava sobre água livre nos alimentos. “A gente teve que ler diversos livros das disciplinas de bioquímica celular, bromatologia, fisiologia para ser ter uma ideia sobre o assunto, pois não tinha um compilado focado para a Nutrição”, exemplifica.

Mas, não eram só esses os desafios. O reconhecimento do curso pelo Ministério da Educação (MEC) ainda estava pendente e os estudos eram atrelados pela incerteza de o curso fechar ou não. “Foi graças a movimentação dos alunos e professores na época, que conseguimos manter o curso funcionando”, explica. “Além disso, a gente tinha uma vontade muito grande de trabalhar na área, especialmente porque o campo de pesquisas permitia muitas possibilidades de investigações e análises a serem feitas”, relembra.

O início na atuação profissional

Mesmo com a paixão pela área clínica, o trabalho de Glória começou na produção de alimentos. Ela trabalhava na elaboração de ficha técnicas das preparações, procurando sempre mostrar um diferencial em seu trabalho. Ela ficou nessa área entre os anos de 1984 e 1989. Naquela época, o profissional já executava a ficha técnica das preparações, mas era chamado de ordem de produção. Nesta ordem, tinha todos os ingredientes da preparação, o peso bruto e líquido, baseado no fator de correção, onde fazia a multiplicação pelo número de comensais para elaborar a lista de compras. Este processo era informatizado em um programa da época onde a tela era preta e o texto era de coloração verde.

Até que uma notícia iria chegar e mudar o rumo de sua carreira: a abertura do primeiro concurso para Nutricionistas da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA). A prova foi realizada em 1988 e a nomeação aconteceu em 1989. Foi então, que ela começou a atuar na clínica.

Entre as principais dificuldades encontradas, Glória cita a falta de entendimento sobre a atuação do nutricionista. “Muitos colegas confundiam a nossa atuação, várias pessoas desconheciam o papel do nutricionista, e por esta razão, era uma dificuldade conversar com as pessoas”, explica.

Contudo, existem momentos em sua memória que fazem todo esforço valer a pena. “Uma vez, um médio de renome no Hospital em que trabalhava me nomeou como responsável para repassar informações a respeito de um paciente em estado grave. Primeiramente, eu achei que ele tinha confundido e disse que era ‘nutricionista e não médica’. A resposta me surpreendeu: ele respondeu que havia pedido para mim, justamente, por essa razão, porque eu sabia qual era a dieta fornecida ao paciente e essa era uma das questões que impactaria significativamente no desfecho do caso”, relata Glória.

Principais mudanças na profissão

Para Glória, a profissão mudou muito ao longo dos anos. Com o avanço da tecnologia e o desenvolvimento científico dos protocolos que tangem a profissão, a nutrição se tornou cada vez mais reconhecida. “É muito bom ver a evolução da nossa profissão. Agora temos pareceres técnicos que cabem somente ao nutricionista, como a dieta enteral como prática do nutricionista e diversos protocolos que foram, inclusive, reconhecidos por órgãos como a Prefeitura Municipal de Curitiba”, exemplifica.

Mas, as mudanças não vieram de forma fácil. Glória comenta que durante a sua carreira, ela encontrou diversos desafios. “Sofríamos muito com o desconhecimento da nossa área de atuação e a falta de valorização por outros profissionais da saúde”, explica. Contudo, aos poucos, esse espaço foi sendo conquistado com muita pesquisa e paciência.

“O que mais me deixa feliz é perceber que com essa valorização, atualmente, a maioria dos pacientes solicitam a presença de um nutricionista e temos nosso espaço cada vez mais respeitado”, comemora Glória. Com as mudanças, a profissão ganhou cada vez mais fôlego e relevância em seu espaço.

Perspectiva e legado

Ao ser perguntada o que a motiva continuar atuando como nutricionista, Glória responde que o seu maior combustível é o amor. “Eu gosto muito da profissão e sei que somos capazes de mudar vidas. Por isso, vejo muito a nossa profissão como uma arte e o que eu deixo de ensinamento aos jovens profissionais é não desistirem da carreira”, finaliza.

O projeto “Valorizando os Profissionais 60+”, uma homenagem aos nutricionistas da terceira idade que enfrentaram contextos adversos e pavimentaram o caminho para as novas gerações.

A proposta é dar visibilidade a essas trajetórias e reconhecer as vivências que moldaram a profissão tal como a conhecemos.

Por Pedro Henrique Oliveira Macedo – Jornalista

Câmara de Curitiba homenageia os Nutricionistas e reforça presença do profissional na Saúde Única

Câmara de Curitiba homenageia os Nutricionistas e reforça presença do profissional na Saúde Única

Proposto pelo vereador Nori Seto (PP), a homenagem foi realizada em alusão ao Dia do Nutricionista celebrado em 31 de agosto

CURITIBA — Os nutricionistas do Paraná receberam votos de congratulações e aplausos da Câmara Municipal de Vereadores de Curitiba em sessão solene realizada em 01º de setembro. Proposto pelo vereador Nori Seto (PP), o Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8), esteve presente para acompanhar a cerimônia e receber, de forma simbólica, essa homenagem para todos os profissionais.

Estiveram presentes todos os membros da nossa diretoria: a presidente Deise Regina Baptista; o vice-presidente, Alisson David Silva; a tesoureira Lilian Mitsuko Tanikawa; e a secretária Vanessa Costa Pentado.

O Dia do Nutricionista é celebrado em 31 de agosto, em alusão ao nascimento da Associação Brasileira de Nutrição, fundada nessa mesma data no ano de 1949. Desde então, a data é reservada para homenagear e reconhecer o trabalho dos profissionais da nutrição, estratégicos nas políticas públicas e exerce um trabalho essencial em todas as fases da vida.

A presidente do CRN-8, Deise Baptista, reforça que a presença do nutricionista na saúde pública é investimento para a segurança nutricional e alimentar das populações. “Acredito que o principal ponto seja reconhecer o nutricionista como investimento em conhecimento técnico e científico. Temos que ampliar a compreensão da sociedade e dos gestores públicos sobre as atribuições do nutricionista. Quanto mais claro for o entendimento do papel que desempenhamos, seja na elaboração de políticas públicas, seja na promoção da saúde e na segurança alimentar, maior será a valorização”, comenta Deise.

Para celebrar o dia, o Sistema Conselhos Federal e Regionais de Nutrição (CFN/CRN) promoveu a campanha “Nutricionista todo dia, em todo lugar!” em uma mobilização nacional de valorização da categoria. Entre as atividades esteve a proposta de iluminação de diversos monumentos em diferentes cidades do Brasil com verde, em celebração à profissão. No Paraná, a estufa do Jardim Botânico de Curitiba se destacou de verde durante a noite do dia 31 de agosto. A Câmara de Vereadores foi iluminada de verde na noite do dia 01º de setembro.

Leia também: Inscreva-se em nosso evento do Dia do Nutricionista

Campanha Saúde Única e a Lei Municipal nº 16.500

Após a homenagem na Câmara, o CRN-8 foi convidado pelo vereador Nori Seto e sua equipe de gabinete para uma reunião de alinhamento e aproximação de estratégias para valorização da saúde na cidade. O tópico surgiu baseado na sanção da Lei Municipal nº 16.500/2025, que institui a Campanha de Promoção do Conceito e dos Profissionais da Saúde Única ou Uma Só Saúde.

A campanha é anual e preferencialmente realizada na semana do dia 03 de novembro, data em que celebra o Dia Nacional da Saúde Única, instituído pela Lei Federal nº 14.792 de 5 de janeiro de 2024.

O conceito de Saúde Única (tradução direta do inglês One Health) é uma abordagem que reconhece, de forma integrada, a conexão indissociável entre saúde humana, animal, vegetal e ambiental. O conceito defende que essa colaboração multidisciplinar é essencial para otimizar o bem-estar de pessoas, animais e do planeta.

Por isso, a equipe de Nori Seto convidou o CRN-8 para participar com outros conselhos profissionais da saúde da divulgação e valorização dessa campanha. A nutrição está diretamente envolvida nos pilares estabelecidos pelo conceito de Saúde Única, conforme explica o vice-presidente, Alisson David Silva. “A saúde humana é indissociável da nutrição, pois uma boa saúde depende de uma alimentação adequada. Contudo, para que essa alimentação seja possível, é fundamental que o meio ambiente proporcione condições de produção de alimentos e que haja acesso a eles de maneira justa e adequada”, explica.

Entre as formas de execução da campanha, a Lei nº 16.500 convida a promoção de ações abrangendo congressos, seminários, divulgações e difusão de orientações comunitárias sobre a importância e o papel dos profissionais da Saúde Única para saúde global.

Por Pedro Henrique Oliveira Macedo – Jornalista

Ministro da Educação homologa novas Diretrizes Curriculares Nacionais da graduação em Nutrição

Ministro da Educação homologa novas Diretrizes Curriculares Nacionais da graduação em Nutrição

Medida consolida debates e reformula a formação dos futuros nutricionistas


BRASÍLIA — Em um movimento considerado decisivo para a modernização do ensino superior em Nutrição no Brasil, o ministro da Educação, Camilo Santana, homologou nesta quarta-feira (14) o parecer CNE/CES nº 445/2024, aprovado pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE). O documento fixa as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para o curso de graduação em Nutrição, na modalidade bacharelado, conforme o processo nº 23001.000642/2022-18.

A homologação encerra um ciclo iniciado em 2020, quando o Conselho Federal de Nutrição (CFN) instituiu a Comissão Especial e Transitória de Revisão das DCNs, reunindo especialistas, docentes e representantes da categoria para repensar a formação profissional. Desde então, a proposta passou por análise do Conselho Nacional de Saúde, foi submetida a consulta pública em 2024 e recebeu aprovação do CNE.

O novo texto reforça a formação crítica e humanista, baseada no direito humano à alimentação adequada. Define campos de atuação que vão da nutrição clínica à saúde coletiva, passando pela alimentação coletiva, indústria, comércio, docência, pesquisa e áreas emergentes. As competências incluem tomada de decisão, trabalho em equipe, gestão e atuação ética, integrando saberes para promoção, prevenção e recuperação da saúde.

A homologação contou com a presença da diretoria do CFN e de presidentes e diretores dos 11 Conselhos Regionais de Nutrição (CRN), reforçando o caráter coletivo e representativo do processo.

“A aprovação das novas diretrizes é um marco histórico para a Nutrição no Brasil e resultado de um trabalho coletivo, construído com a contribuição de docentes, pesquisadores, profissionais e entidades comprometidas com a excelência na formação em Nutrição. Esse avanço está alinhado aos desafios contemporâneos, fortalecendo o papel do nutricionista na promoção da saúde e na defesa do direito humano à alimentação adequada”, afirma Erika Carvalho, presidente do Conselho Federal de Nutrição.

Segundo o CFN, as novas DCNs respondem às demandas emergentes da área e às mudanças impulsionadas pela evolução científica e tecnológica neste século. Com a homologação, a resolução seguirá para publicação no Diário Oficial da União, o que oficializará as novas diretrizes e permitirá sua adoção nos projetos pedagógicos de todos os cursos de Nutrição do país.

A implantação, de caráter obrigatório, deverá ocorrer de forma gradual nas Instituições de Ensino Superior (IES), com prazo máximo de dois anos a partir da publicação da resolução.

“Na época, era tudo mais manual e menos dinâmico”: Deise Baptista e a evolução da Nutrição baseada em evidências científicas

“Na época, era tudo mais manual e menos dinâmico”: Deise Baptista e a evolução da Nutrição baseada em evidências científicas

No segundo quadro do projeto “Valorizando os Profissionais 60+”, acompanhamos o testemunho da atual presidente do CRN-8, que viu a nutrição se consolidar como área de pesquisa científica


Deise Regina Baptista assumiu a presidência do CRN-8 em outubro de 2024

Limão com água morna em jejum, o vilão imaginário do glúten, a exclusão indiscriminada da lactose e o temor infundado aos carboidratos. Em tempos de redes sociais, mitos alimentares se espalham como rastilho de pólvora, desafiando a ciência e colocando em risco a saúde coletiva. Em resposta a essa avalancha de desinformação, o Conselho Federal de Nutrição (CFN) lançou em 2024 a campanha Nutrição é Ciência, reafirmando o compromisso com uma prática profissional embasada em evidências.

Mas nem sempre a nutrição ocupou esse lugar de reconhecimento. Nos anos 1980, a profissão ainda lutava por espaço, respeito e regulamentação. Os recursos tecnológicos eram escassos e o prestígio, limitado. Era preciso coragem para trilhar esse caminho, que Deise Regina Baptista trilhou com firmeza. Hoje presidente do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8), Deise é uma dessas vozes que moldaram o presente da Nutrição, ecoando lutas que não devem ser esquecidas.

O CRN-8 lança a segunda edição do projeto Valorizando os Profissionais 60+, uma iniciativa voltada à valorização dos profissionais dessa faixa etária e as suas vivências ao longo da vida profissional.

Na história de hoje, vamos conhecer mais sobre a trajetória de Deise, que assim como outros profissionais, se envolveu na área acadêmica e percorreu um caminho como professora, contribuindo, de certa forma, para a consolidação da nutrição baseada em evidências.

Uma juventude marcada pelo desejo de cuidar

Desde muito jovem, Deise já demonstrava sensibilidade por temas ligados à saúde e à qualidade de vida. “O que me motivou a seguir essa carreira foi o desejo de ajudar as pessoas a viverem melhor e ter uma melhor qualidade de vida”, relembra com ternura. Cursou Nutrição na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e, em 1987, obteve o diploma. Seu primeiro desafio profissional foi no Hospital Universitário Júlio Muller, onde atuou como nutricionista convidada.

“Naquela época, tudo era mais limitado. As pesquisas eram feitas em livros, nada de Google, Bases de Dados Científicas, Inteligência Artificial, e o trabalho era majoritariamente manual”, conta. A tecnologia ainda engatinhava, e o cenário da saúde pública oferecia poucos recursos. Apesar disso, o entusiasmo por fazer a diferença prevalecia. “Mesmo com as dificuldades, a gente não desistia. Trabalhávamos com dedicação para oferecer o melhor possível aos pacientes”, relembra.

O encontro com a docência: um sonho realizado

O hospital foi ponto de partida, mas o coração de Deise batia também pela sala de aula. Fez especializações em Saúde Pública e em Administração Hospitalar, consolidando a base que a levaria à docência. Em 1990, passou no concurso para professora da UFMT, a mesma universidade onde se formara.

“O meu sonho sempre foi ensinar. Poder voltar à instituição como professora foi uma conquista imensa”, afirma. A experiência hospitalar, agora transposta para o ensino superior, servia de ponte entre a teoria e a prática. Em 1992, Deise se transferiu para a Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, onde seguiu sua trajetória acadêmica com ainda mais vigor. Ingressou no mestrado, no doutorado e em múltiplos cursos de atualização, especialmente na área clínica, que tanto a encantava.

Um percurso de luta e reconhecimento

Ao longo de sua carreira, Deise vivenciou as dificuldades impostas à profissão — o preconceito de outros profissionais da saúde, a incompreensão sobre o real papel do nutricionista e a escassez de oportunidades práticas. “Algumas vezes nos deparávamos com situações em que os interlocutores não reconheciam a importância da Nutrição e desconheciam as atividades profissionais do Nutricionista”, relembra.

Essa realidade, porém, mudou com o tempo. Com o avanço da ciência, o campo da Nutrição passou a ser valorizado como parte fundamental da promoção da saúde. Deise esteve presente nessa transformação, não somente como espectadora, mas como protagonista, seja na produção científica, bem como na orientação e tutoria de novos profissionais.

Em abril de 2025, durante uma participação do CRN-8 na Câmara Municipal de Araucária (região metropolitana de Curitiba), alguns nutricionistas da cidade foram ao local prestigiar o discurso da presidente no plenário da câmara. Coincidentemente, a maioria dos profissionais foi alunos da Deise. “Ainda hoje eu encontro ex-alunos com quem trabalhei, ou ainda trabalho, reconhecidos pelo seu profissionalismo, ética e competência, o que me admira profundamente e me dá orgulho de dizer: dever cumprido”, relata Deise emocionada.

Na presidência do CRN-8, Deise tem realizado diversas ações de Relações Institucionais e Governamentais. Na foto, ela está presente em uma audiência da Frente Parlamentar da Medicina e Odontologia da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP).

As Doenças Crônicas como missão de vida

Entre os diversos temas que marcaram sua trajetória, um se destacou com força singular: as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade passaram a ser objetos de estudo e cuidado constante. Sua dissertação de mestrado e a tese de doutorado exploraram com profundidade a diabetes mellitus — uma das grandes epidemias silenciosas do século.

“Tive a oportunidade de realizar estudos no exterior e de ingressar na Sociedade Brasileira de Diabetes, o que foi um marco na minha vida profissional”, compartilha. Suas publicações ganharam projeção nacional e ajudaram a consolidar sua autoridade no campo. Integra desde os anos 2000 a Sociedade Brasileira de Diabetes, somando sua voz às de outros especialistas comprometidos com o avanço da ciência.

Uma nova Nutrição, novos horizontes

Deise testemunhou uma grande mudança. A Nutrição de hoje é mais tecnológica, integrada e baseada em evidências. “Temos softwares de análise de dietas, exames laboratoriais sofisticados e acesso rápido à informação científica. Antes, tudo era mais demorado, mais artesanal”, explica.

A relação entre profissional e paciente também se transformou. Hoje, o cuidado é multidisciplinar, integrando médicos, psicólogos, educadores físicos e, claro, o próprio paciente, que deixa de ser passivo para se tornar agente da própria saúde. “O nutricionista não é mais apenas um prescritor, mas um facilitador. Alguém que escuta, orienta, acompanha”, finaliza.

Em meio a mitos e desinformação, é urgente lembrar que Nutrição é ciência — mas também é história, memória, legado. Deise Regina Baptista nos mostra, com sua trajetória, que cada atendimento, cada aula e cada artigo publicado são sementes lançadas no solo fértil de um Brasil mais saudável, mais justo e mais consciente.

Valorizando quem abriu caminho

O projeto Valorizando os Profissionais 60+, uma homenagem aos nutricionistas da terceira idade que enfrentaram contextos adversos e pavimentaram o caminho para as novas gerações.

A proposta é dar visibilidade a essas trajetórias e reconhecer as vivências que moldaram a profissão tal como a conhecemos.