“Muitas pessoas sequer sabiam o que faz um nutricionista”: trajetória de Vanessa Penteado mostra o pioneirismo na valorização da profissão

“Muitas pessoas sequer sabiam o que faz um nutricionista”: trajetória de Vanessa Penteado mostra o pioneirismo na valorização da profissão

Vanessa é secretária do CRN-8 e primeira personagem do projeto “Valorizando os Profissionais 60+”, que aborda vivências e relatos de profissionais da terceira idade na época de consolidação da Nutrição no Brasil.


Seu nome é Vanessa Costa Penteado. Aos 65 anos, ela se emociona ao relembrar sua trajetória de mais de quatro décadas, essencial para a consolidação da profissão e o reconhecimento da Nutrição como área estratégica na promoção da saúde. Nutricionista e secretária da Gestão 2024-2027 do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região, Vanessa é a primeira convidada do Projeto Valorizando os Profissionais 60+, uma iniciativa do CRN-8 voltada à valorização dos profissionais da terceira idade e suas vivências na nutrição. Com foco total no entrevistado, a proposta é trazer relatos e experiências que iluminam o caminho percorrido até os dias de hoje.

Início da trajetória

“Ao longo da minha trajetória profissional, vivi muitos momentos marcantes, que foram fundamentais para entender a profissional que sou hoje”, conta Vanessa. No entanto, sua história com a nutrição começa a mais de 700 quilômetros de Curitiba, no Rio Grande do Sul. Nascida e criada em Curitiba, Vanessa prestou vestibular para a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, porque seu companheiro da época também fez o processo seletivo para essa instituição. Outro fator que incentivou a mudança foi o fato de que na Universidade Federal do Paraná ainda não existia o curso de Nutrição. Ela sempre valorizou os estudos e optou pelo curso de Nutrição, motivada tanto por afinidade com a área quanto pelo incentivo do marido.

“Na Unisinos, o curso exigia que todos os alunos passassem por um ciclo básico antes de ingressarem nas disciplinas específicas”, relembra. “Foi durante esse período que me apaixonei pela Nutrição. Escolhi essa profissão por minha afinidade com as Ciências Humanas, mas também por influência do meu contexto pessoal”. Mas, espera… Ciências Humanas?

Isso mesmo, o curso não era como o conhecemos. Conforme o Conselho Federal de Nutrição, o primeiro curso de Nutrição no Brasil foi criado em 1939 na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). O curso tinha duração de um ano, era ministrado em tempo integral e dividido em quatro períodos. Conforme um estudo de 70 anos da história da profissão publicado em 2011, no Brasil, a regulamentação da profissão de nutricionista foi estabelecida em 24 de abril de 1967, com a sanção da Lei nº 5.276 pelo então Presidente da República, General Artur da Costa e Silva. Essa legislação dispôs sobre o reconhecimento da profissão de nutricionista, regulamentando seu exercício e estabelecendo as bases legais para sua atuação no país.

Esse processo de regulamentação consolidou a Nutrição como campo das Ciências da Saúde. Entretanto, até os anos 1970, era comum que a formação tivesse um viés mais humanista, com abordagens sociais e educacionais, o que a aproximava das Ciências Humanas, gerando no pensamento da época uma associação da Nutrição às humanidades.

Na Unisinos, o curso de Nutrição foi implementado em 1972. Vanessa ingressou na universidade logo após esse período. “Era uma instituição bem conceituada e acessível, que atraía estudantes de diferentes regiões do Brasil”, lembra.

No início da década de 1980, seu marido recebeu uma proposta de trabalho em Curitiba. Determinada a concluir sua formação, Vanessa se mudou com a família e conseguiu a transferência para o recém-criado curso de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR), inaugurado em 1979.

“Cheguei em 1981. O curso enfrentava sérias dificuldades estruturais e quase foi encerrado por falta de professores e recursos”, recorda. “Nós, alunas, nos mobilizamos, fomos até a Assembleia Legislativa e lutamos pela continuidade do curso”. E deu certo. A mobilização foi crucial para a consolidação da graduação na UFPR.

Vanessa integrou a segunda turma da universidade e relembra os inúmeros desafios enfrentados. “Tínhamos poucas professoras com experiência acadêmica, e a estrutura era bastante precária”, comenta. “A maioria das docentes vinha da Unisinos, já que ainda não havia nutricionistas formadas em Curitiba para assumir essas funções.”

Graças à continuidade do curso, alunos e professores puderam seguir na carreira. “O mercado estava em expansão, e a abertura da graduação trouxe oportunidades profissionais para essas mulheres.”

Reconhecimento da profissão de nutricionista

Além das dificuldades estruturais, havia ainda a falta de reconhecimento da profissão. “Percebi um grande contraste ao chegar a Curitiba. O curso era novo, e muitas pessoas sequer sabiam o que fazia uma nutricionista. Quando eu dizia que estudava Nutrição, perguntavam: ‘O que é isso?’, achando que se tratava apenas de cozinhar ou trabalhar em restaurantes”, comenta. Mesmo assim, Vanessa e suas colegas mantinham o compromisso de fortalecer a profissão e destacar sua importância na saúde pública.

Mercado de trabalho

A carreira após a formatura foi promissora. “Me formei em 2 de setembro de 1985 e, já no dia seguinte, estava empregada”, comemora. Na época, havia grande demanda por nutricionistas, impulsionada pelo crescimento das indústrias na Cidade Industrial de Curitiba e pela implementação do Programa de Alimentação do Trabalhador, que exigia a presença desses profissionais nos refeitórios empresariais. A maior parte das oportunidades estava na área de alimentação coletiva, setor ao qual Vanessa dedicou parte de sua vida.

Seu primeiro emprego foi em uma empresa terceirizada responsável pela supervisão da concessionária de alimentos da Telecomunicações do Paraná S/A (Telepar). Ou seja, trabalhava em uma empresa contratada pela Telepar para fiscalizar outra empresa, também contratada pela Telepar. Confuso? Um pouco. Mas deu certo para a entrevistada. “O ambiente era exigente, e a nutricionista da Telepar fiscalizava todos os processos com muito rigor. Mas isso foi um grande aprendizado. Entendi a importância de seguir padrões elevados de qualidade e segurança dos alimentos”, explica.

Pouco depois, surgiu uma vaga na própria empresa de alimentação terceirizada da Telepar — justamente aquela que Vanessa fiscalizava — e ela foi contratada. “Passei a atuar diretamente na produção de refeições para os funcionários, o que ampliou ainda mais minha experiência”, relata.

Em 1986, ela foi aprovada em um processo seletivo para atuar como nutricionista no Sesc e permaneceu por 30 anos.

Os desafios, como sempre, foram muitos. “Trabalhar com alimentação envolve adversidades, porque muitas pessoas acham que entendem do assunto por cozinharem em casa”, desabafa. No ambiente profissional, isso se traduzia em opiniões constantes sobre a gestão da cozinha, como se fosse uma extensão do ambiente doméstico.

“A necessidade de estabelecer regras e orientar os funcionários sobre controle sanitário e segurança dos alimentos foi um processo que exigiu tempo”, explica. “Mas, aos poucos, conseguimos transformar a cozinha em um verdadeiro ambiente de produção, onde os manipuladores de alimentos compreenderam sua responsabilidade com a saúde da população.”

Vanessa atuava com produção em larga escala, fornecendo milhares de refeições por dia em diversos municípios do Paraná. “O desafio era garantir que os alimentos fossem não apenas nutritivos e saborosos, mas também microbiologicamente seguros”, destaca. Outra dificuldade recorrente era a valorização dos profissionais da alimentação, frequentemente vistos como secundários. “Nosso trabalho sempre foi mostrar que cozinhar em grande escala exige conhecimento técnico e profissionalismo. Vai muito além de simplesmente ‘fazer comida’.”

Ela finaliza com ternura e gratidão: “Trabalhar no Sesc foi um grande aprendizado, cheio de desafios e conquistas”. Ao longo de sua trajetória, ela assumiu também o cargo de gerência e coordenou os programas na área de saúde, incluindo os serviços de alimentação. “Eu gosto de pensar que minha história pode servir de inspiração para os novos profissionais que estão começando na nutrição. Com esforço e dedicação, você consegue conquistar cargos com maior responsabilidade e demonstra a competência do seu trabalho”, explica.

Hoje, Vanessa está aposentada, mas permanece ativa no Conselho Regional de Nutrição. Atua em diversas comissões e atividades do CRN-8, compartilhando sua experiência, criatividade e conhecimento com as novas gerações.

CRN-8 realiza evento “Formei e agora?” sobre iniciar carreira na nutrição clínica

CRN-8 realiza evento “Formei e agora?” sobre estruturar um consultório na nutrição clínica

A capacitação gratuita reuniu facilitadores para falar das principais informações que os profissionais precisam saber para estruturar um consultório


Contabilidade, aspectos legais, regulatórios e estruturais: todos esses assuntos geram dúvidas aos profissionais que desejam começar a estruturar um consultório na nutrição clínica. Afinal, esse é um trabalho complexo, que envolve diversas camadas essenciais para o exercício ético da profissão.

Por isso, na última semana, o Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região realizou o evento “Formei e agora? – Como estruturar um consultório”, de forma híbrida e gratuita, para acadêmicos em nutrição e profissionais que desejam mudar de atuação e estruturar um consultório na nutrição clínica. Idealizado pela Comissão de Formação Profissional (CFP), com apoio da Comissão Transitória de Eventos e da Comissão de Comunicação (CCom), o evento previu um momento de interação para compartilhar assuntos pertinentes que o profissional precisa saber ao iniciar sua carreira em consultório. Estiveram presentes a Diretoria do CRN-8, representada pela presidente, Dra. Deise Regina Baptista, e a conselheira e coordenadora da CFP, Tatiana Marin.

Dividido em quatro eixos temáticos, o “Formei e agora?” reuniu cinco palestrantes para falar de temas que abordaram desde aspectos legais até as bases do Código de Ética e de Conduta do Nutricionista na hora de divulgar seus serviços nas redes sociais.

No primeiro momento, os palestrantes tiveram quinze minutos para expor suas ideias de forma geral e sucinta. Na sequência, uma roda de conversa foi mediada pela conselheira do CRN-8, Giovana Regina Ferreira, que abordou perguntas de forma interdisciplinar, além de trazer as interações do chat na transmissão ao vivo.

Como resultado do evento, o CRN-8 preparou um Manual Orientativo para servir como guia sobre as principais informações relativas a este assunto. Você pode acessá-lo clicando aqui. Todo o evento “Formei e agora?” também está disponível em nosso canal oficial no YouTube:

Os palestrantes presentes foram:

  • O nutricionista Ney Felipe Fernandes, falando sobre a gestão, organização e experiência na construção de um consultório;
  • A coordenadora de Fiscalização do CRN-8, Julisse Klemtz Wagner, e o assessor contábil do Conselho, Claudecir José Munhoz, abordando os aspectos legais e regulatórios da atuação clínica;
  • A nutricionista Letícia Mazepa, explicando sobre os aspectos técnicos, científicos e de infraestrutura na hora de estabelecer um consultório;
  • O vice-presidente do CRN-8, Alisson David Silva, abordando o Código de Ética na divulgação e promoção dos serviços.

Confira as fotos do evento!

No Dia da Terra, nutricionista destaca como nossas escolhas alimentares afetam o planeta

No Dia da Terra, nutricionista destaca como nossas escolhas alimentares afetam o planeta

Vice-presidente do CRN-8, Alisson David Silva, defende que repensar a alimentação é um ato de cuidado com o meio ambiente e de promoção da justiça alimentar


No contexto das crescentes emergências climáticas e da degradação ambiental, o Dia da Terra (celebrado em 22 de abril) convida à reflexão sobre práticas cotidianas que impactam diretamente o planeta. Nesta data, discute-se a importância da preservação do planeta e o meio ambiente, incentivando a mudança de hábitos que não trazem benefício à natureza e nem à saúde.

Convidamos Alisson David Silva, vice-presidente do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8), para falar sobre o tema. E, como destaque, uma das atitudes mais significativas que cada pessoa pode adotar é repensar sua alimentação.

“As escolhas alimentares exercem influência direta sobre o uso de recursos naturais, a emissão de gases de efeito estufa, o desmatamento, o uso de água e energia, e a geração de resíduos”, explica Alisson. Ele mostra, por exemplo, que dietas altamente focadas em produtos de origem animal, ultraprocessados e com alta pegada ecológica estão entre os fatores pela degradação dos ecossistemas.

Segundo o nutricionista, adotar uma alimentação mais sustentável — priorizando vegetais, leguminosas, grãos integrais e alimentos locais e sazonais — não é apenas uma escolha individual de saúde, mas pode ser um compromisso coletivo com a preservação ambiental. “É essencial compreender de onde os alimentos vêm, para entender como podemos minimizar os impactos que eles causam”, explica.

Entre outros fatores, para além do nosso prato, envolve a diminuição do consumo de plástico, evitar o fast-fashion, participar de mutirões de limpeza (como aqueles nas praias), fazer a separação do lixo em lugar adequado, bem como escolher a economia de água e energia.

Menos ultraprocessados, mais alimentos do campo

Reduzir o consumo de ultraprocessados e valorizar alimentos frescos e orgânicos são medidas que contribuem para a promoção de um sistema alimentar mais saudável e menos poluente. O nutricionista ressalta que os produtos ultraprocessados geralmente exigem cadeias produtivas longas, consumo excessivo de energia e embalagens plásticas, além de contribuírem para a perda da cultura alimentar regional.

“Esses alimentos são pobres em nutrientes e estão associados ao aumento de doenças crônicas. Por outro lado, valorizar alimentos orgânicos, sazonais e locais fortalece os sistemas agroecológicos e reduz a emissão de CO₂, além de manter viva a biodiversidade e a produção do pequeno agricultor”, destaca.

Claro, não é a ingesta de carne isoladamente que causa problemas no meio ambiente. No entanto, o incentivo a um consumo excessivo e descontrolado, em uma dieta que não envolva outros tipos de alimento, incentiva essa produção em larga escala que prejudica o meio ambiente. Além de não ser saudável à pessoa, igualmente.

Para guiar essas escolhas, o profissional cita como referência o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde, que prioriza a comida de verdade, a sustentabilidade e o respeito à cultura alimentar do país.

De acordo com a publicação, o Guia se constitui como um instrumento para apoiar e incentivar práticas alimentares em saudáveis no âmbito individual e coletivo.  Tal qual subsidia políticas públicas e ações que visem incentivar, apoiar, proteger e promover a saúde e a segurança alimentar e nutricional da população.

Sustentabilidade na mesa das instituições

As escolhas individuais podem gerar impactos, mas não é de forma individual que a questão deve ser trabalhada. Então, fica a pergunta, como ampliar o acesso à alimentação sustentável em larga escala?

Para Alisson, o segredo está no reforço de políticas públicas que contribuam na superação de obstáculos como a insegurança alimentar, o alto custo de alimentos frescos e a fragilidade nutricional que algumas pessoas estão inseridas. “Ainda temos uma publicidade agressiva de alimentos ultraprocessados e um ambiente alimentar precarizado, especialmente nas comunidades de baixa renda”, pontua.

Entre as estratégias, o nutricionista, que também tem formação em agronomia, explica o fortalecimento de políticas públicas estruturantes, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a implementação de hortas comunitárias e escolares, o incentivo à agricultura urbana e, sobretudo, projetos permanentes de Educação Alimentar e Nutricional.

“O acesso à alimentação sustentável não deve ser privilégio de poucos. É preciso integrar saúde pública, justiça social e preservação ambiental, promovendo a equidade alimentar em todos os territórios”, conclui.

Valorizar a cultura indígena é proteger a segurança e soberania alimentar desses povos

Valorizar a cultura indígena é proteger a segurança e soberania alimentar desses povos

No Dia dos Povos Indígenas, o CRN-8 convidou a estudante Gislaine Kanhgág, indígena Kaingang, para compartilhar seu relato sobre a alimentação em sua comunidade de origem


Celebrado em 19 de abril, o Dia dos Povos Indígenas é um convite à reflexão sobre os direitos, as culturas e os desafios enfrentados por mais de 300 etnias que vivem no Brasil e se comunicam em aproximadamente 274 idiomas distintos. Os indígenas representam menos de 1% da população brasileira e enfrentam sérias consequências das transformações em seus modos de vida, como o avanço de doenças crônicas e da insegurança alimentar. Esses dados foram revelados no Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, coordenado pelo pesquisador Carlos Coimbra Jr., da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), que delineia um retrato detalhado das condições de vida dessas populações.

Para além de dados científicos, o CRN-8 optou por valorizar a perspectiva de quem vivencia essa realidade. Convidamos Gislaine Kanhgág, indígena Kaingang e estudante de Nutrição na UFPR, para relatar sua experiência. A seguir, publicamos seu depoimento na íntegra, com pequenas adaptações de estilo. Ao relatar sua história, ela oferece um ponto de vista sobre sua comunidade, especificamente. A escuta atenta dessa narrativa é também um gesto de respeito, reconhecimento e compromisso com a causa indígena.

Gislaine Kanhgág é indígena Kaingang e estudante de Nutrição na UFPR

Pergunta: Você percebe que existe uma mudança alimentar onde o consumo de alimentos não tradicionais está aumentando?

Resposta: Desde minha infância, como indígena da etnia Kaingang e ao conviver com outros povos indígenas como os Guarani, Guarani Mbya, Charrua, Kaingang e Xokleng — povos situados majoritariamente no Sul do Brasil — percebo com clareza as transformações alimentares que atravessam nossas comunidades. Sabemos o que significa “alimento forte” e “alimento fraco”, conforme descrevo em minha pesquisa Ciência Ancestral, Tecnologia Indígena e Saúde: discutidas a partir da riqueza nutricional do prato típico Kaingang “Fuá com Ẽmĩ” determinada a partir da análise físico-química de sua composição. Esses conceitos estão profundamente enraizados em nosso conhecimento ancestral, transmitido oralmente ao longo de milhares de gerações.

Observação ao leitor: leia o trabalho de Gislaine nos Anais da V Conferência de Teoria Histórico Cultural e CTS – Ciência Tecnologia e Sociedade clicando aqui.

Minha pesquisa revelou que a diferenciação entre alimentos fortes e fracos não se trata apenas de sabor ou aparência, mas diz respeito às propriedades nutricionais e ao impacto direto no corpo e na mente — um saber construído pela observação cuidadosa de nossos ancestrais. Entretanto, desde o colonialismo, nossas práticas alimentares vêm sendo profundamente afetadas. A pressão para consumir alimentos processados e ultraprocessados cresceu, impulsionada pelo acesso limitado aos alimentos tradicionais, pela sazonalidade e pela imposição de modelos alimentares ocidentais. Muitos desses alimentos, alheios à nossa dieta original, foram incorporados ao cotidiano, impactando negativamente nossa saúde, nossa relação com o território e nossos modos de ser.

Apesar dessas mudanças, é alentador perceber que os conhecimentos ancestrais seguem vivos entre nós. A sabedoria sobre o que é um alimento forte, por exemplo, continua sendo repassada oralmente, não apenas entre os Kaingang, mas entre diversos povos originários que hoje somam mais de 300 nações. Esse conhecimento ancestral representa resistência, identidade e soberania.

Na Aldeia Araçaí, situada em Piraquara/PR, por exemplo, onde trabalho com ações de segurança alimentar e nutricional, o acesso a alimentos de qualidade é um desafio cotidiano, essa transição alimentar é visível. A distância da cidade dificulta o acesso a alimentos frescos e tradicionais. Embora programas de assistência alimentar busquem garantir o direito à alimentação segura e nutricionalmente adequada, na prática, a falta de infraestrutura, recursos para plantio sustentável e apoio à produção tradicional limita a efetividade dessas políticas. Além disso, a urbanização ao redor da aldeia, o deslocamento de indígenas para trabalhos precários nas cidades e a luta constante por demarcação de território interferem diretamente na produção e consumo de nossos alimentos autóctones.

Por exemplo, alimentos tradicionais como o milho, a mandioca, o fuá e o ẽmĩ — de alto valor nutricional e cultural — têm sido gradualmente substituídos por biscoitos recheados, farináceos, embutidos e bebidas artificiais. Essa mudança é atravessada por múltiplas pressões: a influência dos mercados e escolas que não valorizam os alimentos indígenas, o acesso limitado à terra e à infraestrutura para plantio, e a própria falta de recursos financeiros e físicos para preparar a terra. Como relataram moradores locais, esses fatores dificultam o cultivo e a continuidade da agricultura tradicional.

É perceptível uma mudança alimentar significativa entre os povos indígenas. Essa transformação está ligada a fatores complexos, como a dependência crescente de programas de assistência alimentar e os desafios estruturais na aplicação dessas políticas públicas. Embora o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) tenham como diretrizes o fornecimento de alimentos saudáveis e culturalmente adequados, muitas vezes não contemplam os alimentos indígenas por dificuldades logísticas, exigência de regularização sanitária, emissão de nota fiscal e falta de estrutura para o escoamento da produção.

Além disso, também percebo que a ausência de diálogo com as comunidades quanto às suas necessidades e preferências alimentares faz com que esses programas, em muitos casos, incluam alimentos ultraprocessados por serem mais fáceis de armazenar, transportar e preparar. Assim, mesmo com o respaldo legal que garante o direito à alimentação adequada — previsto na Constituição Federal e na Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) —, sua execução acaba reforçando uma lógica assistencialista e comprometendo a soberania alimentar indígena.

Outro ponto fundamental é a não demarcação dos territórios e o adensamento populacional em áreas já reduzidas por políticas colonizadoras. Isso impacta diretamente a possibilidade de plantar roças, coletar alimentos da mata e até mesmo pescar, afetando a disponibilidade dos alimentos naturais e autóctones. A luta pela segurança e soberania alimentar dos povos indígenas passa necessariamente pela valorização de seus saberes, pelo respeito às suas culturas e pela efetiva garantia de seus direitos territoriais.

Pergunta: O inquérito de nutrição dos povos indígenas escrito em 2009 mostra que indígenas apresentam altas proporções de anemia e sobrepeso. Você percebe que esse dado se mantém atual hoje em dia?

Resposta: Sim, eu percebo que esse dado do inquérito de 2009 ainda é muito atual. Inclusive, eu tenho uma vivência direta que mostra isso. Nos anos 2000, quando eu era criança, minha mãe, que é técnica de enfermagem, adotou um menino indígena como nosso irmão. Ele chegou na nossa casa com aproximadamente um ano de idade, pesando apenas 4,200 kg. Tinha os cabelos bem amarelados, a barriga grande, sinais claros de desnutrição e foi diagnosticado com anemia ferropriva. A gente morava no Gramado dos Loureiros, no Rio Grande do Sul, e essa realidade era bastante comum nas comunidades indígenas da região.

Mesmo hoje, passados mais de 20 anos, vejo que essas situações continuam se repetindo em muitos territórios indígenas. A anemia ainda é muito presente nas crianças, e o sobrepeso e a obesidade têm aumentado entre os adultos. Isso mostra que a transição alimentar e a insegurança nutricional continuam afetando a saúde dos nossos povos. A gente vê isso na prática, no dia a dia, nas comunidades. Por isso, acredito que os dados do inquérito de 2009 continuam sendo um retrato atual da situação nutricional indígena no Brasil.

Pergunta: O que te motivou a cursar Nutrição e como pretende contribuir com a pesquisa em povos indígenas?

Resposta: Para ser bem sincera, quando entrei no curso de Nutrição eu não tinha praticamente nenhum conhecimento sobre a área. Isso porque minha trajetória foi marcada por desafios no acesso à educação — cresci em território indígena, estudando em escolas da comunidade ou próximas, onde o ensino era bastante limitado. Mas essa realidade nunca me desmotivou.

Foi minha irmã que me influenciou a seguir esse caminho, e com o tempo, principalmente através das vivências práticas e do contato direto com as necessidades da minha comunidade, fui compreendendo a real importância de termos nutricionistas atuando nos territórios indígenas.

Hoje, vejo que a Nutrição Pública pode (e deve) ser um instrumento de transformação. Quero falar sobre soberania alimentar entre os meus, mostrar que o nosso conhecimento ancestral tem valor, tem força — e mais do que isso, ele está reconhecido em leis. Precisamos conhecer esses direitos e cobrar sua efetivação.

Quero contribuir com pesquisas que valorizem os saberes indígenas, que respeitem a cultura alimentar dos nossos povos e que caminhem junto com nossas lutas por saúde, território e dignidade.

Conheça mais do trabalho realizado no Projeto de Extensão Ações de SAN em Piraquara aqui.

Como oferecer chocolate às crianças na Páscoa sem exageros? Nutricionista do CRN-8 orienta sobre escolhas e o equilíbrio

Como oferecer chocolate às crianças na Páscoa sem exageros? Nutricionista do CRN-8 orienta sobre escolhas e o equilíbrio

O chocolate não é o vilão, mas o excesso do consumo e a escolha de produtos com baixo valor nutricional precisa ser repensado para garantir mais saúde nessa época


Todo ano é aquela surpresa ao chegar ao supermercado e encontrá-lo repleto de ovos de Páscoa. Surge, então, o comentário inevitável: “Já estão por aí tão cedo!”. Essa época do ano é, de fato, marcada por esse produto — o chocolate em formato de ovo, com sabores diversos e forte apelo entre crianças. Chamam ainda mais atenção aqueles que vêm com brindes (geralmente brinquedos) ou que são personalizados com personagens de filmes e desenhos animados. Quanto mais decorados, mais atrativos se tornam.

Mas afinal, o chocolate é realmente um vilão? A resposta é não. O problema está no excesso e na forma como esse alimento é inserido na rotina alimentar, especialmente das crianças. Para esclarecer esse tema, conversamos com a nutricionista e conselheira do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8), Fernanda Manera, que compartilhou orientações importantes sobre como equilibrar o consumo de chocolate nas festividades sem abrir mão do prazer e da saúde.

O chocolate não é o vilão, o excesso, sim

Em primeiro lugar, é essencial entender que o chocolate, por si só, não representa um risco à saúde. “O que causa os malefícios é o consumo excessivo durante a Páscoa e nos dias seguintes”, explica Fernanda. Dividir um chocolate em família, por exemplo, não é um problema. No entanto, a compra em excesso e a disponibilidade constante do produto ao longo do tempo podem contribuir para hábitos alimentares inadequados, especialmente quando não há o consumo equilibrado de frutas, verduras e a prática regular de atividade física.

No caso das crianças, o cuidado deve ser ainda maior. A nutricionista lembra que crianças menores de dois anos não devem consumir chocolate ou qualquer doce com adição de açúcar. Acima dos dois anos, embora o consumo não seja proibido, deve-se optar por produtos com melhor qualidade nutricional, como chocolates com maior teor de cacau e uma lista de ingredientes mais limpa. Ou seja, com menos aditivos químicos e mais ingredientes naturais.

Por exemplo, chocolates meio amargos ou 70% cacau costumam ter como primeiro ingrediente o próprio cacau. Já os chocolates ao leite geralmente apresentam o açúcar como primeiro item da lista, o que indica sua predominância na composição. “Mesmo não sendo proibido, não devemos incentivar o consumo excessivo de chocolate na infância, já que se trata de um alimento com grande quantidade de açúcar e gordura para uma criança pequena”, destaca a nutricionista.

Consumo exagerado pode gerar riscos no futuro

O consumo exagerado de alimentos ultraprocessados na infância está associado a um aumento no risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, doenças cardiovasculares e obesidade. Além disso, pode estimular a seletividade alimentar, dificultando o interesse por alimentos mais saudáveis.

Segundo dados do Ministério da Saúde de 2021, 13,2% das crianças entre 5 e 9 anos acompanhadas pelo SUS já apresentam obesidade, e 28% estão com excesso de peso, o que acende um alerta para os riscos de longo prazo. É importante lembrar que um único consumo pontual de chocolate não causará obesidade, mas os hábitos frequentes e repetitivos, sim. Por isso, a palavra-chave é equilíbrio. A criança pode consumir chocolate, desde que isso ocorra de forma esporádica e acompanhada de uma alimentação variada e equilibrada.

Outro ponto de atenção são os ovos que contêm brinquedos como “brindes”, prática que associa alimentos de baixo valor nutricional a recompensas lúdicas. “Atrelar brinquedos a alimentos ultraprocessados é perigoso, pois reforça o desejo pelo consumo frequente”, alerta Fernanda. “A criança passa a acreditar que sempre que comer chocolate ganhará algo em troca e, por isso, pede todos os dias.”

Uma alternativa mais saudável é oferecer o chocolate às crianças com melhor qualidade nutricional e, separadamente, um brinquedo adequado à idade da criança. “Mais importante que o presente é a presença do adulto, que deve estar disponível para brincar, conversar e criar memórias afetivas, fortalecendo o vínculo familiar”, completa.

Orientações importantes para oferecer chocolate às crianças

Alguns alertas para a família. A primeira é não comprar chocolate em excesso. “Chocolate temos o ano todo e provavelmente a criança terá contato muitas vezes ao longo do ano, por isso, não precisa exagerar”, explica Fernanda. A segunda indicação é buscar opções com uma lista de ingredientes melhor, priorizando aqueles com a menor quantidade possível de elementos químicos, muitas vezes não nutritivos. Os ovos de Páscoa industrializados, geralmente, possuem pouco cacau, muito açúcar e gordura, além desses aditivos químicos.

E a terceira dica é sustentar o comércio local de uma maneira mais sustentável. “Para quem gosta de chocolate e quer aproveitar a Páscoa, comprar de pequenos artesãos, que produzem ovos de maneira mais artesanais e de melhor qualidade, é uma boa dica, porque você incentiva o pequeno empreendedor e ainda consegue ter mais controle de que o alimento não foi feito de maneira industrial”, conta.

E por fim, a palavra chave é equilíbrio. “Uma criança com acesso a comida de verdade, alimentos de época e com uma hidratação adequada, além de pouca oferta de alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas, é uma criança que pode comer chocolate”, diz Fernanda.

E vale lembrar: essas recomendações servem não apenas para as crianças, mas para todas as faixas etárias.

Fiscalização em Fotos: Retratos da Diversidade

Fiscalização em Fotos: Retratos da Diversidade

Projeto do CRN-8 busca valorizar e ampliar visibilidade das ações das Nutricionistas Fiscais


Em 2024, o Setor de Fiscalização do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região visitou 46 municípios em todo estado do Paraná. Para cada ação são vários quilômetros percorridos para garantir a efetividade do exercício profissional adequado.

Durante essas idas e vindas, o Setor optou por eternizar essas memórias: tirar fotografias das cidades que visitaram. Esse foi início do projeto Fiscalização em Fotos: Retratos da Diversidade. Além de oferecer visibilidade às ações fiscais, também valoriza a riqueza de cultura e natureza que o nosso Paraná possui.

E não parou por aí. No projeto foi previsto que houvesse um concurso interno para votar nas melhores fotos. Com a contribuição da equipe, fizemos um formulário e enviamos nos grupos de WhatsApp do RepresentAÇÃO pedindo para que os nutricionistas votassem nas fotos que mais lhe agradaram.

Hoje, trazemos o resultado dessa votação! Mas, além das fotos vencedoras do primeiro, segundo e terceiro lugar, fizemos uma galeria para mostrar todas as fotos tiradas e valorizar a riqueza do nosso estado.

Confira!

1º lugar: Toledo (47,5% dos votos)

2º lugar: Pato Branco (32,8% dos votos)

3º lugar: Irati (24,6% dos votos)

Galeria das Fotografias da Fiscalização

CRN-8 inicia novo GT para revisão de manual orientativo para nutrição em escolas particulares

CRN-8 inicia novo GT para revisão de manual orientativo para nutrição em escolas particulares

O principal objetivo é atualizar o manual já existente para alinhá-lo às melhores práticas de atuação do profissional de nutrição em escolas da rede privada


Em março, o Conselho Regional de Nutrição iniciou o novo Grupo de Trabalho para a revisão do Manual Orientativo para Nutricionistas Atuantes no Ambiente Escolar da Rede Privada de Ensino. O objetivo é revisar e atualizar o material, garantindo que esteja alinhado com as diretrizes nutricionais mais recentes e com as melhores práticas para a atuação dos nutricionistas em escolas particulares.

>>>Acesse a Primeira Edição do E-book aqui

O grupo é formado pelas conselheiras Fernanda Manera e Sandy de Fátima Souza, da coordenadora técnica do CRN-8, Carolina Dratch, e das nutricionistas Joana Wience Gluck e Thatielly Garcia, convidadas devido ao conhecimento e atuação na área.

A nutricionista Thatielly reforça que o material é fundamental para a atuação do nutricionista em ambiente escolar privado. “O trabalho feito pelo CRN-8 vai contribuir para manter o profissional da área sempre atualizado sobre as legislações vigentes, oferecendo a sociedade nossa atuação com a melhor capacitação possível”, explica.

O cronograma de atividades é composto por reuniões periódicas entre os membros do GT. Durante os encontros, serão feitas discussões técnicas sobre os temas abordados no manual. Igualmente, o grupo oferece uma oportunidade de ajustar o conteúdo e garantir que a segunda edição tenha aplicabilidade e efetividades no cotidiano do profissional de nutrição.

Importância da atualização aos profissionais de escolas privadas

A atuação dos nutricionistas em escolas privadas exige constante atualização diante das mudanças legislativas e técnicas da profissão. Desde a publicação do manual pelo CRN-8, em 2023, novas normativas foram implementadas, com destaque para as atualizações sobre Responsabilidade Técnica (RT), essenciais para garantir qualidade e segurança nos serviços prestados.

“Sabemos da importância da alimentação escolar para os estudantes e do papel do nutricionista na rede privada de ensino”, diz Fernanda Manera. “A revisão deste manual vem para somar e auxiliar os profissionais que atuam na alimentação escolar, por meio de atualizações e capacitação técnica, orientando assim as atividades do nutricionista”, finaliza.

Sobre o Manual

Disponível em formato e-book, possui 10 capítulos divididos em 100 páginas. Os textos do material foram escritos pelas nutricionistas Cilene da Silva Gomes Ribeiro; Thatielly Schwarzbach de Souza Garcia; Juliana Guedes; Veridiane Sirota; Thais Bordenowski da Silva; e Carolina Bulgacov Dratch.

Cada capítulo é baseado nas atribuições obrigatórias do nutricionista conforme “Resolução CFN n° 600, de 25 de fevereiro de 2018, segmento – Alimentação e Nutrição no Ambiente Escolar: subsegmento – Alimentação e Nutrição no Ambiente Escolar – Rede Privada de Ensino”.

Sobre a exigência do nutricionista no sistema Receita-Saúde

Sobre a exigência do nutricionista no sistema Receita-Saúde

O Conselho Federal de Nutrição (CFN) informa à categoria e à sociedade sobre a exigência dos nutricionistas no aplicativo “Receita-Saúde” da Receita Federal do Brasil (RFB), tema que tem gerado questionamentos e possíveis transtornos no reembolso de consultas e serviços prestados.

Nutricionistas não estão obrigados a se cadastrar no sistema Receita-Saúde.

Desde o início de janeiro de 2025, os Conselhos Regionais de Nutrição (CRN) têm recebido relatos de que operadoras de planos de saúde estão exigindo indevidamente que nutricionistas se cadastrem no sistema para viabilizar o reembolso de consultas. No entanto, não há qualquer obrigatoriedade legal para que esses profissionais utilizem a ferramenta.

A Instrução Normativa RFB nº 2.240/2024, publicada em 12 de dezembro de 2024, regulamenta o funcionamento do “Receita-Saúde” e determina que apenas as seguintes categorias estão obrigadas a emitir recibos eletrônicos por meio do aplicativo:

  • Médicos
  • Odontólogos
  • Psicólogos
  • Fisioterapeutas
  • Terapeutas Ocupacionais
  • Fonoaudiólogos

Os nutricionistas não fazem parte desse grupo, pois seus serviços ainda não são dedutíveis no Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), conforme a Lei Federal nº 9.250/1995. Dessa forma, os registros profissionais da categoria não foram incorporados ao sistema.

Atuação do CFN e medidas adotadas

O CFN já notificou as operadoras de planos de saúde sobre a inexistência de previsão legal para essa exigência e reforça que os reembolsos devem ser garantidos sem a necessidade de cadastro no “Receita-Saúde”. Caso algum plano de saúde condicione o reembolso ao uso do sistema, o profissional pode contestar a exigência, informando que não há respaldo legal para tal. O CFN também orienta que essas situações sejam formalmente denunciadas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e ao Ministério Público Federal (MPF).

Além disso, o CFN atua junto ao Congresso Nacional pela aprovação do Projeto de Lei nº 10.367/2018, que propõe a inclusão dos serviços de nutricionistas na base de cálculo das deduções do imposto de renda. O projeto está em tramitação na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, aguardando parecer do relator.

O CFN reafirma seu compromisso com a defesa e valorização da profissão, garantindo melhores condições de trabalho para os nutricionistas e promovendo a segurança alimentar e nutricional da população brasileira.

Para mais informações, acesse a Instrução Normativa RFB nº 2.240/2024 aqui.

Curso de Técnico em Nutrição e Dietética é o primeiro a receber o Programa CRN-8 nas IES em 2025

Curso de Técnico em Nutrição e Dietética é o primeiro a receber o Programa CRN-8 nas IES em 2025

Ao todo foram três turmas do Colégio Estadual Julia Wanderley que tiraram dúvidas e conheceram mais sobre a atuação do conselho e do profissional


Na última segunda-feira (24), foi realizada a primeira palestra do Programa CRN-8 nas IES para alunos do Curso Técnico em Nutrição e Dietética do Colégio Estadual Júlia Wanderley, em Curitiba. Ao todo, três turmas participaram do evento, que teve como objetivo esclarecer a atuação do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8) e apresentar o amplo leque de possibilidades profissionais para os Técnicos em Nutrição e Dietética.

A palestra foi conduzida pela nutricionista e conselheira do CRN-8, Giovana Regina Ferreira. Durante sua fala, ela explicou dúvidas frequentes dos alunos em relação ao período pós-formatura, incluindo os trâmites para cadastro e inscrição no Conselho. Além disso, contou sobre o papel do Conselho, abordando suas atribuições na fiscalização profissional e sua atuação junto às esferas públicas. Com iniciativas como essa, o CRN-8 reforça sua presença, amplia a visibilidade de suas ações e fomenta uma prática profissional ética, crítica e qualificada.

“Esse momento de aproximação com os alunos é essencial, pois, muitas vezes, representa o primeiro contato deles com o Conselho”, ressalta Giovana. “Aproveitamos essa oportunidade para orientá-los sobre a obtenção do registro profissional, compartilhar detalhes sobre nossa atuação e esclarecer as principais dúvidas que possam ter”, complementa.

Ao final da palestra, os alunos receberam um exemplar impresso do Código de Ética Profissional dos Técnicos em Nutrição e Dietética, documento que detalha as atribuições da categoria conforme a deliberação do Conselho Federal de Nutrição (CFN). “Grande parte das dúvidas dos estudantes gira em torno das áreas em que podem atuar. Por isso, essas palestras, aliadas à entrega do Código de Ética, contribuem para que compreendam melhor seu papel no mercado de trabalho e os motivem a explorar as possibilidades da profissão”, destaca Giovana.

O Técnico em Nutrição e Dietética pode atuar em diversas frentes, como hospitais, clínicas, indústria alimentícia e consultórios de nutrição, sempre auxiliando o trabalho do nutricionista. Suas responsabilidades incluem o acompanhamento nutricional de pacientes, a preparação de refeições, a aplicação de técnicas de higienização e a assistência na elaboração de dietas e cardápios, desde que sob a supervisão de um nutricionista.

“É comum que os alunos do curso técnico acreditem que sua atuação se restringe a lactários ou unidades de alimentação e nutrição. No entanto, há múltiplas possibilidades na carreira, incluindo oportunidades em instituições de saúde, onde podem trabalhar em conjunto com nutricionistas. Além disso, também podem ministrar aulas ou palestras, desde que os temas abordados estejam dentro das atribuições do técnico e não sejam atividades privativas do nutricionista”, explica Giovana.

Atualmente, o CRN-8 possui 228 Técnicos em Nutrição e Dietética devidamente cadastrados no Paraná, demonstrando a crescente relevância desse profissional no cenário da saúde e alimentação.

Instituição da Lei nº 14.924/2024 e a valorização profissional

Desde 12 de julho de 2024, entrou em vigor a Lei nº 14.824/2024, que reconhece o direito de representação dos TNDs. Desta forma, todo o sistema CFN/CRN do Brasil mudou a sua nomenclatura para “Conselho Federal/Regional de Nutrição”, agregando os profissionais em nível de equidade no Conselho.  A alteração está inserida na legislação que regulamentou a profissão de técnico em nutrição e dietética (TND), sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Sobre o CRN-8 nas IES

O Programa CRN-8 nas IES realiza palestra orientativa nas Instituições de Ensino Técnico e Superior em nutrição. Essas palestras têm como foco apresentar as finalidades da entidade, bem como as principais legislações da profissão e os casos éticos mais frequentes. Em média, as palestras têm duração de uma hora.

Para que a instituição de ensino receba a palestra, basta entrar em contato com o Conselho pelo e-mail, que a equipe que trabalha com a formação profissional alinha as datas e horários. Não há custo para as instituições.

Presidente do CRN8 participa da oficina Alimenta Cidades em Curitiba

Presidente do CRN8 participa da oficina Alimenta Cidades em Curitiba

A presidente do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8), Deise Regina Baptista, participou da Oficina Alimenta Cidades, evento promovido pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), em Curitiba. O encontro reuniu especialistas, gestores e representantes de diversas instituições para discutir estratégias voltadas à segurança alimentar e nutricional nos centros urbanos.

Na ocasião, foi apresentado o estudo “Os caminhos da comida: o papel do planejamento urbano na transformação do sistema alimentar”, que destaca como o planejamento das cidades pode contribuir para tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis, acessíveis e equitativos. A pesquisa analisou dados de Curitiba, da região metropolitana e do litoral, apontando o potencial desses territórios para promover uma transição para modelos alimentares mais saudáveis e sustentáveis.

Prefeito Eduardo Pimentel abre a oficina Alimenta Cidades, promovida pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), e lança o estudo “Os Caminhos da Comida: o papel do planejamento urbano na transformação do sistema alimentar”. A presidente do CRN8 está na terceira fila, de preto, com óculos e crachá. Curitiba, 17/03/2025. Foto: Pedro Ribas/SECOM

Além disso, Curitiba foi agraciada com o Selo Betinho, concedido pela Ação da Cidadania no Combate à Fome, em reconhecimento aos municípios que promovem e incentivam iniciativas de segurança alimentar. Enquanto a média nacional da população em situação de segurança alimentar é de 70,3%, Curitiba e sua região metropolitana apresentam índices superiores, atingindo, respectivamente, 80,9% e 79,6% da população com acesso pleno e regular aos alimentos.

A discussão sobre sistemas alimentares nas cidades é essencial, considerando que aproximadamente 85% da população brasileira vive em áreas urbanas, onde também se consome cerca de 80% dos alimentos produzidos no país.

O desafio da segurança alimentar e nutricional nos centros urbanos envolve questões como produção, transporte, comercialização, acesso, consumo e descarte de alimentos. Nesse sentido, a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional nas Cidades – Alimenta Cidades surge como uma iniciativa fundamental para integrar ações que garantam alimentos saudáveis e sustentáveis para toda a população.

A participação da presidente do CRN-8 reforça o compromisso da instituição em contribuir para o debate e a formulação de políticas públicas que promovam a segurança alimentar, reconhecendo a importância da atuação da Nutrição na construção de sistemas alimentares mais justos e saudáveis.