No Dia da Terra, nutricionista destaca como nossas escolhas alimentares afetam o planeta
Vice-presidente do CRN-8, Alisson David Silva, defende que repensar a alimentação é um ato de cuidado com o meio ambiente e de promoção da justiça alimentar
No contexto das crescentes emergências climáticas e da degradação ambiental, o Dia da Terra (celebrado em 22 de abril) convida à reflexão sobre práticas cotidianas que impactam diretamente o planeta. Nesta data, discute-se a importância da preservação do planeta e o meio ambiente, incentivando a mudança de hábitos que não trazem benefício à natureza e nem à saúde.
Convidamos Alisson David Silva, vice-presidente do Conselho Regional de Nutrição da 8ª Região (CRN-8), para falar sobre o tema. E, como destaque, uma das atitudes mais significativas que cada pessoa pode adotar é repensar sua alimentação.
“As escolhas alimentares exercem influência direta sobre o uso de recursos naturais, a emissão de gases de efeito estufa, o desmatamento, o uso de água e energia, e a geração de resíduos”, explica Alisson. Ele mostra, por exemplo, que dietas altamente focadas em produtos de origem animal, ultraprocessados e com alta pegada ecológica estão entre os fatores pela degradação dos ecossistemas.
Segundo o nutricionista, adotar uma alimentação mais sustentável — priorizando vegetais, leguminosas, grãos integrais e alimentos locais e sazonais — não é apenas uma escolha individual de saúde, mas pode ser um compromisso coletivo com a preservação ambiental. “É essencial compreender de onde os alimentos vêm, para entender como podemos minimizar os impactos que eles causam”, explica.
Entre outros fatores, para além do nosso prato, envolve a diminuição do consumo de plástico, evitar o fast-fashion, participar de mutirões de limpeza (como aqueles nas praias), fazer a separação do lixo em lugar adequado, bem como escolher a economia de água e energia.
Menos ultraprocessados, mais alimentos do campo
Reduzir o consumo de ultraprocessados e valorizar alimentos frescos e orgânicos são medidas que contribuem para a promoção de um sistema alimentar mais saudável e menos poluente. O nutricionista ressalta que os produtos ultraprocessados geralmente exigem cadeias produtivas longas, consumo excessivo de energia e embalagens plásticas, além de contribuírem para a perda da cultura alimentar regional.
“Esses alimentos são pobres em nutrientes e estão associados ao aumento de doenças crônicas. Por outro lado, valorizar alimentos orgânicos, sazonais e locais fortalece os sistemas agroecológicos e reduz a emissão de CO₂, além de manter viva a biodiversidade e a produção do pequeno agricultor”, destaca.
Claro, não é a ingesta de carne isoladamente que causa problemas no meio ambiente. No entanto, o incentivo a um consumo excessivo e descontrolado, em uma dieta que não envolva outros tipos de alimento, incentiva essa produção em larga escala que prejudica o meio ambiente. Além de não ser saudável à pessoa, igualmente.
Para guiar essas escolhas, o profissional cita como referência o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde, que prioriza a comida de verdade, a sustentabilidade e o respeito à cultura alimentar do país.
De acordo com a publicação, o Guia se constitui como um instrumento para apoiar e incentivar práticas alimentares em saudáveis no âmbito individual e coletivo. Tal qual subsidia políticas públicas e ações que visem incentivar, apoiar, proteger e promover a saúde e a segurança alimentar e nutricional da população.
Sustentabilidade na mesa das instituições
As escolhas individuais podem gerar impactos, mas não é de forma individual que a questão deve ser trabalhada. Então, fica a pergunta, como ampliar o acesso à alimentação sustentável em larga escala?
Para Alisson, o segredo está no reforço de políticas públicas que contribuam na superação de obstáculos como a insegurança alimentar, o alto custo de alimentos frescos e a fragilidade nutricional que algumas pessoas estão inseridas. “Ainda temos uma publicidade agressiva de alimentos ultraprocessados e um ambiente alimentar precarizado, especialmente nas comunidades de baixa renda”, pontua.
Entre as estratégias, o nutricionista, que também tem formação em agronomia, explica o fortalecimento de políticas públicas estruturantes, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a implementação de hortas comunitárias e escolares, o incentivo à agricultura urbana e, sobretudo, projetos permanentes de Educação Alimentar e Nutricional.
“O acesso à alimentação sustentável não deve ser privilégio de poucos. É preciso integrar saúde pública, justiça social e preservação ambiental, promovendo a equidade alimentar em todos os territórios”, conclui.